Política

PT defende governo, mas quer compromisso com programa eleito nas urnas

‘Medidas do ajuste devem todas ser tomadas como pontuais, porque não podemos realizar o ajuste sem manter a essência da política econômica desenvolvimentista’, resume deputada Maria do Rosário

PT defende governo, mas quer compromisso com programa eleito nas urnas
PT defende governo, mas quer compromisso com programa eleito nas urnas
"Neste congresso e no PT todos apoiamos 100% Dilma”, disse a deputada Maria do Rosário
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Salvador – Qual PT sairá do 5º Congresso realizado em Salvador, entre os dias 11 e 13 de junho? Independentemente da resolução a ser divulgada ao final do encontro, não será um partido que colocará a presidenta Dilma Rousseff diante de um ultimato. A julgar pelo que dizem algumas das principais lideranças da legenda no encontro, o PT tende a adotar, pelo menos no papel, uma postura de autonomia em relação ao governo Dilma Rousseff, mas de apoio à presidenta, numa conjuntura de dificuldades econômicas reconhecida por todos: a começar pela própria Dilma, passando pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e representantes do partido no Congresso.

“O PT que sai é um PT consciente de sua base social, aquela que nos escolheu como o partido para representar os trabalhadores, os setores médios e os pobres que estão se erguendo e garantindo direitos no nosso governo, e nos escolheu para governar o Brasil por quatro vezes. Neste congresso e no PT todos apoiamos cem por cento Dilma”, resume a deputada Maria do Rosário, por exemplo. “Dilma tem não apenas a nossa solidariedade, o nosso apoio militante. Ela tem um programa a cumprir, que é o programa eleito nas urnas em 2014.”

A última frase da deputada é um recado. O apoio ao governo, de acordo com documento intitulado “Mudar o PT para continuar mudando o Brasil”, assinado por 35 deputados do partido e divulgado no congresso de Salvador, passa inclusive pela compreensão da necessidade do ajuste fiscal, e todos os petistas sabem que uma postura intransigente diante do governo deixará Dilma isolada e mais vulnerável ainda aos ataques que tem sofrido de setores conservadores desde sua posse no segundo mandato.

Se existe o entendimento de que Dilma não deve ser confrontada neste início de segundo governo, porém, os petistas dizem que o ajuste fiscal deve andar junto com políticas que incentivem o crescimento, mantenham a valorização do salário mínimo, a inclusão e programas sociais, e não percam de vista um horizonte desenvolvimentista.

Um importante ex-ministro do governo Lula disse à reportagem que, nesse sentido, deve ser observado como bastante significativo que Dilma, em seu discurso na abertura do congresso, tenha manifestado a intenção de que o ajuste caminhe paralelamente a políticas de desenvolvimento. O mesmo ministro, porém, considera que o governo poderia ter evitado incluir no ajuste fiscal as desgastantes medidas provisórias que mexeram em direitos trabalhistas e previdenciários, o que irritou as centrais sindicais, principalmente a CUT. Para ele, o governo poderia ter evitado esse desgaste e incluído os valores representados pelas MPs nos cortes do próprio orçamento.

O buraco que o ajuste fiscal tenta cobrir foi aberto principalmente por políticas inadiáveis no setor de energia, sem as quais o país poderia ter enfrentado problemas, e pelas políticas fiscais que desoneraram o setor produtivo no primeiro mandato de Dilma, mas também por políticas do governo Lula. Desonerações que não tiveram a contrapartida que a indústria se comprometeu a dar, o que legitima a irritação dos trabalhadores.

“Nós avaliamos que as medidas (do ajuste) devem todas ser tomadas como pontuais, porque não podemos realizar o ajuste sem manter a essência de uma política econômica desenvolvimentista que tivemos ao longo dos últimos anos. Ainda que existam críticas às alterações na linha econômica atual, que o governo produziu no último período, isso não significa nenhuma diferença quanto ao apoio à presidenta Dilma. Significa que o PT deve formular opinião e oferecer a ela como o partido de esquerda da composição”, acrescenta Maria do Rosário.

A fala do presidente nacional do PT, Rui Falcão, ontem (12), em que faz enfática defesa da recriação da CPMF ou a criação de outro tributo semelhante para financiar a saúde é emblemática, já que a posição é frontalmente discordante da manifestada por Joaquim Levy.

“A preocupação central da maioria (do PT) é discutir uma resolução que leve em conta nosso forte apoio ao governo Dilma Rousseff e ao mesmo tempo a ampliação das estratégias políticas e econômicas, ou uma calibragem da política econômica de tal sorte que aumentem os investimentos públicos para acelerar a economia e retomar o crescimento, além de taxar o ‘andar de cima’”, diz o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

Assim como ele e Maria do Rosário, Alessandro Molon (PT-RJ) também é um dos signatários do documento dos deputados. “Acho que a presidenta (em seu discurso na abertura do congresso) deu uma mensagem muito clara ao partido de que ela tem a compreensão de que os movimentos (do ajuste fiscal) são táticos, para preservar o objetivo estratégico. Que ela continua do mesmo lado e não mudou de opinião sobre crescimento econômico, inclusão social, proteção do emprego e do salário. Acho que ela veio ao congresso para dizer isso”, avalia Molon.

Já o deputado José Guimarães (SP), líder do governo na Câmara, por motivos óbvios mais governista, diz que o congresso mostra “um PT forte e unido”, apesar das discordâncias entre diversas linhas do partido. “As divergências integram o debate que sempre o PT fez. O PT nunca foi diferente disso. O dia em que for diferente, ele se acaba. Podemos divergir internamente, mas ao final o PT sai forte e unido para defender o governo da Dilma e reconstruir a nossa história”, afirma o líder.

“O PT que sai do congresso é um PT consciente de que estamos passando um momento difícil, mas também que o PT é a referência para uma possibilidade de manutenção das conquistas, garantia de que os direitos não serão achacados”, opina o ministro da Cultura, Juca Ferreira.

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