Psicanálise e positivismo

Reflexões a respeito das críticas estéreis e avessas à contemporaneidade da disciplina

Imagem: iStockphoto

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O discurso positivista, ao pretender tornar-se um discurso da verdade, desconhece a divisão entre saber e verdade. Mostra uma face implacável ao tentar destituir a subjetividade que implica um saber. A ciência positivista não implica um discurso, não implica um laço social. Já a psicanálise constitui-se em um laço social e um saber, que inclui o próprio sujeito da ciência.

A transmissão e a prática da psicanálise na formação de psicanalistas estimulam uma interlocução permanente com outros campos do saber que deixaram sua marca enquanto ruptura epistêmica, transgressão e subversão, desde o período pré-socrático. O corte epistêmico freudiano incidiu sobre a subjetividade de uma época e continua a incidir como discurso analítico que se interpõe aos obstáculos e se opõe às “patogenias” que afetam o corpo ou tecido social pela segregação, discriminação e desigualdade social. “O inconsciente é uma hipótese necessária e legítima” que se institui no “inconsciente” de Freud. Faz-se ao sujeito um convite a reencontrar sua divisão entre saber e verdade, e construir por extensão o que venha a se extrair. Cada análise feita por Freud mostra a importância que ele dava às palavras enunciadas por seus pacientes. Este saber no inconsciente é “um saber insu em si mesmo”, dirá Lacan. A prioridade é dada à linguagem. O analista favorece a emergência desse saber pela via da interpretação e o analisante aprende em análise a ler seu inconsciente, buscando a causa de seus sintomas.

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5 comentários

ANA LUCIA BORGHESE RODRIGUES 19 de agosto de 2023 11h00
Imaginei que ao longo do texto - na minha opinião acadêmico demais para uma revista noticiosa - a autora faria algum tipo de análise psicológica da sociedades contemporânea mais... digamos...somente para não perder a classe... conservadora. No final, foi apenas um texto acadêmico. Pena.
Ivanisa Teitelroit Martins 21 de agosto de 2023 18h46
Sou doutora em psicologia clínica, especialista em teoria psicanalítica. Tenho 40 anos de experiência clínica e dois registros no CRP. Sou vinculada a duas sociedades de psicanálise que reúnem 600 psicanalistas. Atendo pacientes que apresentam sequelas de internações e de atendimentos psiquiátricos que transformam estados de mera desestabilização emocional em graves doenças mentais, empregando medicamentos que impactam severamente o estado geral do paciente, levando à inatividade e à perda de vontade de viver. Procure conhecer e exercer a topologia clínica e as transformações topológicas que causam mudanças de estrutura psíquica. Esse estudo e sua aplicação é ciência na escuta, no manejo e na direção do tratamento: uma experiência vivificante que não prejudica a saúde daquele que procura fazer análise, dando a ele recursos para ler os seus próprios sintomas, tornando-se independente e preparado para um cotidiano eivado de conflitos sociais. Psicanalistas para exercerem sua função fazem análise pessoal de no mínimo 15 anos, participam de pelo menos duas jornadas nacionais e mesmo internacionais anuais entre pares, além de permanentes reuniões clínicas, se interrogando sobre as questões sociais e os sintomas da contemporaneidade.
ricardo fernandes de oliveira 24 de agosto de 2023 11h27
a autora não demonstrou que Natália pasternak está errada
Ivanisa Teitelroit Martins 25 de agosto de 2023 22h50
Respondo no primeiro e no último parágrafos do artigo, ao identificar o discurso de Pasternack enquanto discurso positivista, um discurso que não se interroga nem se questiona, o que é próprio da prática psicanalítica.
Ivanisa Teitelroit Martins 25 de agosto de 2023 22h57
CONSIDERAÇÕES FINAIS de um de meus artigos que constam do livro de minha autoria sobre a lógica do inconsciente nó nó borromeu. O sintoma é irrupção dessa a-nomalia em que consiste o gozo fálico, na medida em que aí se mostra, em que se revela essa falta fundamental que Patrick Valas qualifica de não-relação sexual. É sobre o significante e pela equivocação que há intervenção analítica em que alguma coisa, no caso o gozo fálico, pode recuar do campo do sintoma. É no simbólico, em que é alíngua que o suporta, que o saber inscrito d’alíngua, que constitui propriamente o inconsciente, se elabora, então destituindo o sintoma no jogo da fala. O corte da torção e do reviramento se faz com propriedade sobre o gozo fálico. Valas, P À psicanálise cabe evitar que esse saber não sabido não venha a ser reduzido nem pela ciência nem pelos epígonos de Freud e Lacan. Este saber, a saber, o Urverdrängt de Freud, o que do inconsciente jamais será interpretado: “L’insu que sait de l’une-bévue s’aile a mourre”. Ivanisa Teitelroit Martins, psicanalista

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