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Protagonismo climático

Na liderança da transição energética, os estados nordestinos terão papel de destaque na nova economia brasileira, aposta Fátima Bezerra

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Protagonismo climático
Desenvolvimento. O Novo PAC prevê investimentos públicos e privados de 700 bilhões de reais na região, celebra – Imagem: Wilson Dias/ABR e Pedro Vitorino/Neoenergia
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A frente do Consórcio Nordeste desde janeiro, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, aposta nas obras do PAC e na transição energética como elementos de desenvolvimento dos nove estados da região. Em entrevista concedida à repórter Fabíola Mendonça, a petista fala da atuação do Consórcio neste primeiro semestre e da expectativa de criação do Fundo Caatinga, nos mesmos moldes do Fundo Amazônia, para captar recursos e investir no semiárido. A governadora também fala sobre a importância do turismo na região e avalia a performance do governo Lula até aqui. A íntegra, em vídeo, está disponível no canal de CartaCapital no Youtube.

Prioridades para o Nordeste

Ao longo deste semestre, elencamos algumas prioridades e a primeira delas foi dar um foco no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Temos mais de 700 bilhões de reais para investir nos nove estados nordestinos. Parte desses recursos é oriunda do Orçamento da União e a outra parte virá das parcerias público-privadas. Queremos priorizar a questão da infraestrutura e da segurança hídrica. Até 2026, vamos concluir 100% da transposição das águas do São Francisco. Isso não é pouca coisa para uma região com a condição geográfica e climática como o Nordeste, vulnerável à ação da estiagem, da seca. Tem também a questão da logística, da infraestrutura rodoviária, com a duplicação das nossas BRs. Além disso, o Brasil está entre os países com maior potencial de produção de energia renovável do mundo e o protagonismo é do Nordeste. O Rio Grande do Norte está há uma década na liderança da produção nacional de energia eólica. Em maio, realizamos a segunda missão internacional do Consórcio Nordeste. Passamos pela Holanda, Bélgica e Alemanha, e tivemos a oportunidade de dialogar com as principais autoridades do Poder Público e com grandes investidores privados. Em Roterdã, participamos do maior evento global da indústria do hidrogênio verde. Na Bélgica, fomos recebidos por autoridades da União Europeia. Na Alemanha, participamos de um fórum organizado pela Câmara de Indústria e Comércio do país. O Nordeste estava ali apresentando as suas potencialidades, buscando parcerias, investimentos.

Transição energética

A agenda da descarbonização do planeta não tem mais volta. De 937 parques ­eólicos existentes hoje no Brasil, 827 estão no Nordeste, dos quais 295 instalados no Rio Grande do Norte. Temos um potencial de 37 gigawatts. Levando em consideração o que já está contratado, devemos chegar nos próximos anos a mais de 300 ­gigawatts. Estamos nos preparando para uma nova fronteira, as eólicas ­offshore, com a geração de energia no mar combinada à produção de hidrogênio verde e seus derivados. Mas não queremos que esse ativo se resuma a exportar ­commodities ou a vender energia para fora. No Rio ­Grande do Norte, temos um projeto em curso, o Porto Indústria Verde, o primeiro originalmente construído para a geração offshore, com hidrogênio verde.

“De 937 parques eólicos existentes no Brasil, 827 estão no Nordeste”, observa a governadora do Rio Grande do Norte

Fundo Caatinga

Desde o ano passado, intensificamos a discussão sobre o Fundo Caatinga e este ano conseguimos o aval do Ministério do Meio Ambiente. Contamos com o apoio do BNDES, que estruturou o Fundo Amazônia e coordena a captação e aplicação dos recursos financeiros. É com base nesse modelo que estamos organizando o financiamento da Caatinga. Esperamos, em julho, que o presidente Lula publique o decreto formalizando a criação do fundo. Sem desconsiderar os outros biomas igualmente importantes, como a Mata Atlântica, o Cerrado e o Pampa, é importante dizer que a Caatinga tem pressa, já foi muito maltratada, invisibilizada e desqualificada. Durante muito tempo, foi apenas sinônimo de seca e fome, mas tem uma propriedade única de resiliência climática, um potencial genético de biodiversidade imenso. Precisamos de recursos para preservar a Caatinga e combater o desmatamento. Eu não tenho nenhuma dúvida de que esse é um dos mais belos legados que estamos construindo para as gerações presentes e futuras. Estamos falando de um bioma que é exclusivamente brasileiro e é o único com perfil semiárido no mundo. Na agenda internacional, já abrimos esse ­diálogo com a União Europeia.

Privatização das praias

É um desserviço para o Nordeste e para o Brasil. Não podemos afrouxar a legislação ambiental. Privatizar as praias não faz bem nem ao turismo, que gera muitos empregos na região. Temos mais de 3 mil quilômetros de costa, os destinos mais bonitos do Brasil e do mundo. Estamos com muita sinergia com a Embratur e com o Ministério do Turismo, dando foco na promoção dos nossos destinos turísticos, na divulgação, cuidando da infraestrutura e da logística, olhando, inclusive, para um turismo diversificado, para além das praias. O Nordeste tem o turismo cultural, histórico, de aventura e religioso. Precisamos apostar na interiorização.

Governo Lula

A eleição do presidente Lula foi um marco para o Brasil, por interromper aquele ciclo acelerado de destruição da democracia, que poderia mergulhar o País no obscurantismo de um regime ditatorial. No primeiro ano de governo, o presidente Lula dedicou-se a reconstruir o País, mas a polarização permanece. Isso tem feito muito mal à democracia e ao Brasil. O governo tem enfrentado dificuldades no apoio congressual, até porque não existe mais aquele modelo de presidencialismo de coalizão. O Congresso, de repente, avançou muito nas suas prerrogativas, no uso desenfreado das emendas parlamentares. Temos um governo de esquerda, progressista e um Congresso conservador. Alguns grupos lá dentro não têm nem perfil conservador, é obscurantista mesmo. Por isso há choques e disputas permanentes. Mas Lula é o Lula. Pela experiência, pela trajetória que tem, não tenho dúvida de que fará o Brasil avançar. O crescimento econômico continua, a inflação está controlada, o desemprego vem caindo e o emprego crescendo, e o Brasil chega na posição de oitava economia do mundo. •

Publicado na edição n° 1314 de CartaCapital, em 12 de junho de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Protagonismo climático’

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