Política

Procuradores criticam diretor da PF após “defesa” de Temer

Em entrevista, o homem nomeado por Temer coloca em dúvida a investigação contra o presidente. E Janot insinua que ele age em nome do peemedebista

Segóvia e Temer: aliados?
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Apadrinhado do ex-presidente José Sarney e de outros integrantes da cúpula do PMDB, o novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, assumiu o cargo em meio a especulações sobre sua independência. Com tantos caciques do PMDB alvos na Operação Lava Jato e em seus desdobramentos, havia preocupação sobre uma tentativa de “estancar a sangria” das investigações. Na segunda-feira 20, em sua primeira entrevista coletiva, Segovia reforçou os temores e saiu em defesa de Michel Temer, o responsável por sua nomeação.

“A gente acredita que, se fosse pela égide da PF, essa investigação teria que durar mais tempo, porque uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção”, afirmou Segovia. Para Segóvia, o papel de Temer no crime apontado pela PGR “é um ponto de interrogação que está no imaginário popular”. Essa questão “poderia ter sido respondida se a investigação tivesse durado mais tempo”, opinou.

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Seus comentários constituem uma crítica à Procuradoria-Geral da República (PGR), que denunciou Temer por corrupção, organização criminosa e obstrução da justiça. A denúncia por corrupção tinha como pivô o ex-assessor de Temer no Planalto Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). 

Nas 60 páginas da denúncia por corrupção passiva que apresentou ao Supremo Tribunal Federal contra Temer, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, buscou conectar dois conjuntos de fatos para provar a culpa do presidente. 

O primeiro envolvia a negociação de uma propina semanal feita entre representantes do grupo J&F, de Joesley Batista, e Rocha Loures. O segundo conjunto compõe o estreito relacionamento entre Loures e Temer. Para Janot, há evidências de que, ao pedir e receber propina, Loures estava atuando em nome de Temer.

A prova mais cabal contra Rocha Loures é a mala com 500 mil reais de propina que ele recebeu de Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais do grupo J&F, em um encontro entre os dois em 28 de abril deste ano, em São Paulo. Todo o encontro foi acompanhado, fotografado e filmado pela Polícia Federal em uma “ação controlada” autorizada pela Justiça. Há registro em vídeo de Rocha Loures correndo com a mala de dinheiro em direção a um táxi que o aguardava nas proximidades da pizzaria. Tanto a ação da PF quanto o depoimento do motorista de táxi confirmam que Rocha Loures entrou no restaurante sem bagagem e saiu de lá com a mala.

Pau mandado

Não tardou para que procuradores reagissem às declarações de Segóvia. Rodrigo Janot foi enfático. “O doutor Segovia precisa estudar um pouquinho direito processual penal. Nós tínhamos réus presos. Em havendo réu preso – se ele não sabe disso é preciso dar uma estudadinha –, o inquérito tem que ser encerrado num prazo curto, e a denúncia, oferecida, senão o réu será solto. Então, nós tínhamos esse limitador”, disse Janot à Folha de S.Paulo.

 

“Não era um preso qualquer, era um deputado federal [Rocha Loures] que andou com uma mala de 500 mil reais em São Paulo, depois consigna a mala [devolve à polícia]. Faltava 7% do dinheiro, ele faz um depósito bancário para complementar o que faltava e o doutor Segovia vem dizer que isso aí é muito pouco? Para ele, então, a corrupção tem que ser muita, para ele 500 mil reais é muito pouco. É estarrecedor.”

Janot acrescentou ainda que as denúncias da PGR contra Temer foram baseadas também em inquéritos e relatórios elaborados pela Polícia Federal, e que Segovia agora estaria “negando” o trabalho de seus colegas. E insinuou que o diretor da PF não tem independência. “A pergunta que não quer calar é: ele se inteirou disso ou ele está falando por ordem de alguém?”, questionou o ex-PGR. “Esse moço se acha acima de todas as instituições, e ele é só diretor da Polícia Federal, uma instituição respeitadíssima, mas vinculada hierarquicamente ao ministro da Justiça e ao presidente da República, que, aliás, estava na posse dele. Nunca vi um presidente da República ir à posse de um diretor-geral”, disse Janot.

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Pelo Facebook, outro procurador de destaque da Lava Jato se manifestou. Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa da operação em Curitiba, disse que a opinião de Segóvia é irrelevante “ainda mais quando dada em plena coletiva após a posse que lhe foi dada pelo próprio denunciado”. A publicação foi elogiada por outros integrantes do Ministério Público Federal. 

No Twitter, Helio Telho, procurador do MPF em Goiás, afirmou que Segóvia atua como “advogado de defesa de Temer”.

 

Na mesma rede social, Vladimir Aras, procurador do MPF em Brasília ironizou as declarações de Segóvia.

 

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