Política
Prisões em ações da PF contra corrupção caíram 90% durante a gestão de Bolsonaro, mostra site
Dados compilados pela Transparência Internacional Brasil mostram um retrocesso no combate ao crime


As operações de combate à corrupção que acarretaram prisões foram reduzidas em 90% durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A informação foi obtida por meio de dados da Polícia Federal pela organização não governamental Transparência Internacional Brasil e reveladas pela jornalista Juliana Dal Diva, do UOL.
Em 2019, foram realizadas 421 prisões relacionadas a investigações de corrupção. No último ano da gestão bolsonarista, em 2022, o número caiu para apenas 42.
Desde o primeiro dia do mandato do ex-capitão até o último, ocorreram 947 prisões em operação de combate à corrupção, sendo 366 em caráter preventivo e 581 temporárias.
O retrocesso no combate ao crime vem sendo alertado anualmente pela ONG por meio do seu Relatório Retrospectivas:
“Ao longo de quatro anos, o ex-presidente Bolsonaro interferiu sistematicamente em órgãos de investigação e persecução criminal. Só na PF foram quatro trocas de direção, além de inúmeros delegados em posição de chefia substituídos. Isso pode ter sido feito para garantir a sua proteção e da sua família contra investigações ou para perseguir adversários políticos”, diz Guilherme France, gerente de pesquisa da Transparência Internacional Brasil ao portal.
“Independente da motivação, que já é grave por conta própria, o que esses dados mostram é que houve uma queda no combate à corrupção, contrariando de forma indiscutível toda sua narrativa de campanha e governo”, acrescenta o pesquisador.
Segundo dados da PF, entre 2019 e 2022 foram deflagradas 756 operações de combate a corrupção, sendo reduzidas ano a ano. Em 2022 foi observado o menor número de operações, 142. Sob a gestão bolsonarista, a PF deixou em aberto 5.423 inquéritos policiais que investigam a ocorrência de corrupção.
“Se diminuem as investigações de corrupção, aumenta a sensação de impunidade. Isso encoraja empresas e agentes públicos a fraudarem licitações, a desviarem recursos e a se apropriarem de bens públicos. O principal prejudicado são pessoas pobres, que ficam sem os serviços públicos básicos de qualidade dos quais dependem”, aponta France.
A diminuição dos números não está relacionada a diminuição da incidência do crime. O pesquisador destaca que o período que abrange a pandemia de Covid-19 precisa ser analisado com cautela.
“Quantidades imensas de recursos federais foram distribuídas e gastas em contratações sem licitação, que têm, naturalmente, maiores riscos de corrupção. Além disso, explodiram os valores distribuídos e gastos por meio do Orçamento Secreto em municípios por todo o país, o que também apresenta altos riscos de desvios. É surpreendente que, mesmo nesse cenário, se reduziram as operações de combate à corrupção no âmbito federal”, observa.
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