Política
Primeira vereadora do PSOL em Curitiba promete ser ‘pedra no sapato’ da extrema-direita
A capital paranaense manteve a maioria conservadora no Legislativo, mas a oposição ganhou uma nova integrante com perfil mais radical à esquerda


As eleições municipais de 2024 em Curitiba marcam a primeira vez na história em que uma integrante do PSOL ocupará uma cadeira como vereadora na cidade. O partido, até então, nunca havia somado votos suficientes para superar o quociente eleitoral.
Em 2024, diz também a vereadora, o contexto político mudou. Uma polarização ainda mais intensa entre os eleitores fez com que o espaço para uma esquerda mais radical e menos institucional ganhasse força na cidade, tradicionalmente conhecida por seu perfil conservador.
“Essas eleições provam que há espaço para a esquerda em Curitiba e que também há espaço para uma radicalidade”, afirma. “A derrota eleitoral na disputa majoritária, para prefeito, é um exemplo disso: o eleitor de esquerda não se sentiu representado por aquela chapa apontada como representante da oposição, do campo progressista”, completa, em referência à derrota de Luciano Ducci (PSB), candidato apoiado por uma frente ampla de centro-esquerda, que incluía o PDT e a Federação PT/PV/PCdoB.
Prioridades
Na Câmara, a professora promete dar atenção especial ao tema da educação e lista uma série de prioridades que seu mandato irá se concentrar ao longo do próximo ano. A necessária ampliação das vagas em creches e a valorização urgente da carreira dos servidores municipais estão no topo da lista.
“O foco central do nosso mandato é, com certeza, a educação, as mulheres e o direito à cidade”, elenca. “Não é o meu tema principal, por exemplo, falar de saúde ou de urbanismo, mas, obviamente, estarei atenta e alinhada com a oposição para promover um debate que faça nossa cidade ser cada vez menos desigual também nesses pontos”, completa.
Professora Angela, a primeira integrante do PSOL eleita vereadora em Curitiba (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Pedra no sapato da extrema-direita
Ao avaliar o perfil dos futuros colegas, Angela lamenta que a cidade tenha optado, mais uma vez, por um perfil majoritariamente alinhado à direita, inclusive entre as mulheres eleitas.
“Temos um recorde de mulheres eleitas, porém, dessas 12 mulheres, apenas cinco são do campo progressista. Teremos algumas parlamentares de esquerda na Câmara este ano e eu me orgulho de ser uma delas, mas sabemos que várias outras não compartilham das mesmas ideias e não defendem os mesmos ideais. Muito pelo contrário, elas serão nossas adversárias e talvez as mais ferrenhas”, avalia.
Além do recorde de mulheres, cita a professora, houve uma substituição de candidaturas de líderes religiosos por influenciadores de direita. A cidade elegeu três vereadores que usam as redes sociais como ferramentas do bolsonarismo e que integram — ou já integraram em algum momento — o MBL.
“Saíram alguns fundamentalistas religiosos, mas entraram os youtubers e influencers. Ninguém sabe exatamente como eles vão se comportar dentro da Câmara, mas sabemos que, na campanha, eles foram raivosos, desrespeitosos e, muitas vezes, usaram fake news como arma. É provável, então, que o modus operandi seja levar o mandato por esse mesmo caminho”, projeta.
Diante desse desafio, ela promete ser “a pedra no sapato” do grupo.
“Decidi me candidatar justamente por acreditar que Curitiba precisa de um mandato verdadeiramente socialista, comprometido com a classe trabalhadora e que funcione como um polo de articulação das lutas do povo”, afirma. “A nossa função é exatamente ser a pedra no sapato deles. O perfil dos eleitos, mais do que nunca, mostra porque o PSOL é necessário em Curitiba”, finaliza.
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