Antipresidente: o passo torto de Bolsonaro em 7 dias de governo

Primeira semana do novo governo foi marcada por avanços contra minorias, polêmicas e desentendimento entre o presidente e seus comandados

Bolsonaro empossa o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante cerimônia de nomeação dos ministros (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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Começa a tomar forma o bolsonarismo, agora como governo. Em uma semana com a caneta na mão, fica claro que as previsões de um presidente mais ‘moderado’ são mais desejo que racionalidade.

As primeiras declarações e medidas do novo governo dão uma amostra consistente do que vem por aí. Bolsonaro continua levando adiante as bravatas de campanha e as ideias que defendia como deputado. Como antes, sobram mentiras e provocações infantis na internet.

Os ministros também não baixaram o tom. As primeiras rachaduras na relação com a equipe econômica: já na primeira coletiva, o presidente foi desmentido por Onyx Lorenzoni e pelos caras de Paulo Guedes menos de 24 horas depois.

Confira a linha do tempo dos principais acontecimentos:

Dia 1 (terça-feira)

Bolsonaro toma posse sob um fortíssimo esquema de segurança e maus-tratos sem precedentes à imprensa. Faz discurso com ares de campanha, prometendo combater o ‘socialismo’, a ‘ideologia de gênero’ e a cor vermelha.

Embora o rito seja possivelmente o mais caro da história (impossível conferir, pois os gastos do governo de transição estão sob sigilo), o que repercute na internet é um boato, plantado pelo próprio, de que a posse foi assinada a com um caneta de 1 real.


Em primeiro decreto, fixa o salário mínimo em 998 reais, menos que o previsto pelo governo Temer (1.006 reais). O aumento segue uma fórmula sancionada por Dilma em 2011, mas o presidente tem margem para decretar um valor diferente, usando a projeção do NPC do mês anterior.

O presidente perdeu a oportunidade de ser o primeiro presidente a decretar um salário acima de 1.000 reais.

Dia 2 (quarta-feira)

A missão de demarcar terras indígenas, principal atividade da Funai, é transferida para o Ministério da Agricultura – comandado pela ruralista Teresa Cristina (DEM). Também foi repassada ao ministério a gestão das terras quilombolas.

É extinta uma secretaria do Ministério da Educação responsável por promover ações pró-diversidade. Todas as menções a proteção da população LGBT são retiradas das diretrizes dos Direitos Humanos, mas o governo volta atrás.

Causa perplexidade um vídeo da ministra Damares Alves, chefe da pasta Mulher, Família e Direitos Humanos.. Rodeada por apoiadores, ela celebra o início de uma ‘nova era’ na qual ‘menina veste rosa e menino veste azul’.

https://t.co/jHql4g8lNV

Em estreia oficial do olavismo no Itamaraty, o chanceler Ernesto Araújo mistura em seu discurso de posse Raul Seixas, globalismo, filosofia grega, grito integralista e pregação religiosa.

“Deveria preocuparmos cada vez mais a teofobia, o ódio contra Deus. Há uma teofobia horrenda e gritante na nossa cultura, não só no Brasil, em todo o mundo. Um ódio contra Deus que vem sabe-se lá de onde, canalizado por todos os códigos de pensamento e de não pensamento que perfazem a agenda global”

Dia 3 (quinta-feira)

Na primeira entrevista como presidente, ao SBT, fala em acabar com a Justiça do Trabalho e mudanças na idade mínima na Reforma da Presidência (62 anos para homens e 57 para mulheres). Mantém a posição entreguista da base de Alcântara e rechaça qualquer diálogo com a oposição.

Dia 4 (sexta-feira)

Primeiro bate cabeça com a equipe econômica. Em entrevista coletiva, Bolsonaro anuncia aumento do IOF, mas é desmentido por Onyx Lorenzoni e pelo secretário Marcos Cintra. Os comandados também recuaram em relação à mudanças no IR.

No Twitter, Bolsonaro mente e retorce dados para justificar o fim do auxílio-reclusão. Além de raramente ultrapassar o salário mínimo, o benefício é dado a uma parcela ínfima da massa carcerária (6,5%, segundo os dados mais recentes) e nem de longe representa alívio às contas da Previdência.


Em meio a grave crise de segurança no Ceará, o presidente eleito mantém o cita o auxílio da Força Nacional apesar de o governador Camilo Santana “ser do PT” e fazer oposição “a nós”.

Dia 5 (sábado)

Em meio à repercussão do vaivém econômico, Bolsonaro e os filhos passam o dia fustigando a imprensa e trocando farpas com adversários. O grande alvo é Fernando Haddad, xingado por compartilhar um artigo da Deutsche Welle  sobre o anti-intelectualismo no governo.

Bolsonaro encarou a postagem como opinião pessoal do concorrente derrotado. Houve resposta, com elegância e ironia.


Dia 6 (domingo)

Com base em informações falsas, Bolsonaro critica o Ibama e é desmentido pela presidente da instituição. No post – já apagado – ele afirmava haver ‘montanhas de irregularidades’ no governo federal, usando como exemplos contratos de aluguel de carros do Ibama.

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