Política
PRB desiste de pré-candidatura de Flávio Rocha ao Planalto
Apoiado pelo MBL, dono da Riachuelo havia anunciado que disputaria presidência em março deste ano


O PRB anunciou, na tarde desta sexta-feira 13, a retirada da pré-candidatura à Presidência da República do empresário Flávio Rocha, dono da rede Riachuelo.
Ao jornal “O Globo”, Rocha afirmou que “chega uma hora que a luta fica quixotesca”. “Jogamos a toalha, fizemos a nossa parte, lutamos o combate, e estamos orgulhosos do que dizemos.” Segundo a nota do partido, a decisão foi tomada em conjunto entre o presidente da legenda, o ex-ministro Marcos Pereira, Rocha e a bancada no Congresso.
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“Há um entendimento claro de que o País não pode flertar com os extremos e, por isso, mais do que nunca durante todo o processo, é fundamental que as forças de centro se unam num único projeto”, diz a nota.
O partido, ligado à Igreja Universal e que faz parte do chamado “centrão” do Congresso, buscará agora uma aliança. Um dos cotados para receber o apoio da sigla é Geraldo Alckmin, do PSDB.
Trajetória
O PRB anunciou Rocha como pré-candidato em março deste ano. O empresário recebeu o apoio do Movimento Brasil Livre. Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, Kim Kataguiri, líder do movimento, afirmou que Rocha é “o candidato do MBL”.
No texto, o ativista fez questão de apresentar o empresário como um versão mais “light” de Jair Bolsonaro, pré-candidato pelo PSL. Segundo ele, o presidenciável do MBL “conjuga o combate ao politicamente correto” com “propostas sérias para a segurança pública”.
O cantor Latino chegou a presentear o pré-candidato com um jingle de campanha. “Arrocha, arrocha, arrocha com Flávio Rocha. Agora vai ou Rocha”, cantou o músico carioca, vestindo uma camisa da seleção brasileira.
O empresário foi um dos mais ardorosos defensores da reforma trabalhista aprovada no ano passado. O projeto, que dificulta o acesso de trabalhadores à Justiça trabalhista, agradou ao pré-candidato, um crítico de acusações sofridas pela Riachuelo relacionadas a más condições trabalhistas de seus funcionários tercerizados.
Gigante do setor têxtil, a empresa é alvo de uma ação civil pública do Ministério Público do Trabalho, que há anos promove inspeções nas fábricas da empresa no Rio Grande do Norte. Nela, exige-se uma indenização de 37,7 milhões de reais a Guararapes Confecções, controladora da Riachuelo, por infrações trabalhistas identificadas em oficinas tercerizadas. As investigações levaram Rocha a atacar pessoalmente a procuradora pelo caso em suas redes sociais.
Assim como o MBL, Rocha também não deixa de se envolver em pautas comportamentais. Em meio à polêmica sobre a perfomance com nudez no MAM em 2017, ele escreveu um artigo sobre o tema intitutlado “O comunista está nu”.
Após apresentar um breve e incompleto resumo do comunismo, da Revolução Bolchevique, que enfrentava “inimigos de peito aberto”, até o pensamento de Antonio Gramsci, de combate aos adversários por “flancos mais sensíveis”, ele classificou a perfomance no MAM como “mais um capítulo dessa revolução tão dissimulada e subliminar” do pensamento de esquerda influenciado pelo teórico italiano. Ele “denunciou” ainda iniciativas como às da perfomance “como parte de um plano urdido nas esferas mais sofisticadas do esquerdismo”.
Em fevereiro, a Riachuelo e seu dono se viram às voltas com acusações de homofobia. Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI e do Grupo Dignidade, divulgou uma carta aberta dirigida à varejista repudiando as notícias de que Rocha teria anunciado apoio à união de igrejas evangélicas e católicas contra os direitos LGBT nas próximas eleições.
A postagem de Reis nas redes sociais repercutiu e ativistas ameaçaram boicote. Depois disso, Reis recebeu um telefonema da empresa e uma declaração oficial por email que negava qualquer apoio de Rocha a instituições que negam direitos aos LGBTs. “Ele é a favor de toda e qualquer configuração de família e acredita na felicidade das pessoas independente da sua orientação sexual.”
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