A defesa da permanência do Brasil no Acordo de Paris em meio às sinalizações do futuro governo de Bolsonaro em retirar o país do acordo firmado em 2015 tem sido um dos assuntos centrais nas conversas dos brasileiros que acompanham a COP24, em Katowice, Polônia, desde o último dia 3. O receio de grande parte da comitiva brasileira é que o futuro chefe de Estado siga a decisão de Donald Trump, que abandonou o acordo em junho de 2017.
Nesta quarta-feira 12, durante um pronunciamento aos representantes dos outros países, o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, fez questão de lembrar que o Brasil conseguiu reduzir as emissões de carbono em 6 bilhões de toneladas entre 2006 e 2015 – governos do PT -, período que registrou queda significativa do desmatamento da Amazônia. Nos últimos três anos, comentou, as reduções chegaram a 3,9 bilhões de toneladas.
Em entrevista a Rádio França Internacional, Alfredo Helio Syrkis, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, lembrou que o Brasil continua sendo um dos principais articuladores das ações climáticas. “Foi na Rio 92 onde tudo começou. O Brasil foi importantíssimo no protocolo de Kioto, na reunião de Copenhagem e também teve um papel muito importante na articulação do Acordo de Paris, que foi a primeira vez que 196 governos combinaram de fazer um esforço para que juntos pudessem combater o processo de aquecimento global”, declarou.
Economia
Além do impacto ambiental de abandonar as políticas climáticas, um outro risco se apresenta entre segundo alguns especialistas que estão na COP24: os efeitos econômicos.
André Guimarães, cofacilitador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, disse à AFP que, diferentemente dos Estados Unidos, o Brasil não pode se permitir economicamente sair do Acordo de Paris.
“Temos muito a perder, nossa economia é muito menos diversificada, depende 20%-30% do uso da terra.” Para ele, qualquer movimento oposto a manutenção do acordo pode interferir no mercado internacional.
“[Bolsonaro] está brincando com fogo. Não podemos esquecer que a indústria agrícola o apoiou para sua eleição”, lembra Guimarães.
Terras indígenas
Outro ponto delicado está no fato de Bolsonaro ter sinalizado que pode flexibilizar as regras para a exploração de terras em reservas indígenas, ambientalistas ficaram preocupados também com um possível aumento do desmatamento nas florestas brasileiras.
Presente na COP 24, a responsável pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sônia Guajajara, defendeu o Acordo de Paris e a demarcação das reservas como uma maneira de implementar ações locais contra o desmatamento.
Segundo a líder indígena, “as terras demarcadas são as mais preservadas e embora não haja uma política efetiva de proteção [das florestas], o próprio modo de vida dos povos indígenas garante a preservação”, declarou. A COP24 vai até o próximo domingo, 14.
Com informações das agências RFI e AFP.
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