Política

Por um debate menos vazio e infantilizado

A partir desta terça-feira, serão 4 debates. É a chance de Dilma e Aécio apresentarem com clareza as diferenças entre suas visões de mundo e seus projetos

O que precisa ser feito com absoluta urgência é mobilizar a sociedade para exigir de Dilma e Aécio um debate menos vazio
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Um dos sintomas mais evidentes do baixo nível de desenvolvimento humano do Brasil é a pobreza do debate público de ideias. Com honrosas exceções, as poucas pessoas que hoje se dedicam seriamente a pensar o país e o mundo não buscam o diálogo. Como fica evidente na carnificina das mídias sociais, estão mais interessadas em falar (ou gritar) do que em ouvir. Isso não vem de hoje, claro – a lógica perversa de tentar convencer pela violência e pela coação está tatuada na nossa história de escravidão e patrimonialismo – mas nos últimos dias, com a chegada de Aécio Neves ao segundo turno das eleições presidenciais, atingiu níveis insuportáveis de virulência, desonestidade e vazio intelectual.

O mais recente exemplo do desejo de confundir, em vez de elucidar, chegou pela voz de Marina Silva neste domingo – não por acaso, Dia de Nossa Senhora Aparecida e, ironia involuntária, também Dia das Crianças –, que, ao anunciar o apoio à candidatura tucana, comparou Aécio Neves a Lula. Seria para rachar de rir se o que estivesse diante dos brasileiros não fosse um decisão tão importante como a que será tomada em 26 de outubro.

A menos de duas semanas da eleição, infelizmente não há tempo para discutir quem lucra com tamanha desinformação. Isso fica para depois, quando os ânimos estiverem menos acirrados e os dois lados um pouco mais propensos a pensar com a cabeça e não com o fígado. O que precisa ser feito com absoluta urgência é mobilizar a sociedade para exigir de Dilma e Aécio um debate menos vazio. Um debate de ideias que faça cada cidadão entender que, neste segundo turno, com duas candidaturas igualmente legítimas do ponto de vista institucional, o que faz a diferença é a visão de mundo que orienta as decisões políticas de cada um.

Não se trata de endeusar ou demonizar Dilma ou Aécio, PT ou PSDB – muito menos recorrer a termos religiosos para tratar de um assunto tão terreno, o que tem sido repetido com desconfortável frequência. Isso seria apenas repisar o infantil reducionismo que pauta nosso debate público de ideias. Chegou a hora de amadurecermos como país, deixarmos de ser crianças para, quem sabe, chegar à adolescência, período da vida tão conturbado (e potencialmente libertador) que funciona bem como metáfora para a crise de identidade vivida pelo cidadão médio brasileiro.

A partir desta terça-feira na Band, serão quatro debates entre os dois candidatos: Band (14/10), SBT (16/10), Record (19/10) e Globo (24/10). Em vez de agredir o eleitor com avalanches de números insondáveis e baciadas de denúncias vazias, Dilma e Aécio deveriam dar o exemplo e apresentar suas diferentes visões de mundo, deixar claro o que desejam para o país e o que pretendem fazer para aumentar o desenvolvimento humano da sociedade brasileira.

Não é hora de assumir discursos apocalípticos e dizer que o país acabará se um ou outro vencer a eleição. Isso seria igualmente desonesto. O que precisa, sim, ser mostrado ao eleitor é que há dois projetos políticos radicalmente divergentes disputando a presidência. E que um deles, o do PT, privilegia o público, enquanto o outro, do PSDB, privilegia o privado. Sabendo isso, cada cidadão poderá fazer sua escolha com consciência. E, se for o caso, mudar de ideia em 2018.

 

* Roberto Guimarães é jornalista, escritor e diretor editorial da Bizu [estúdio e editora].

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