Política

Por que o Censo 2020 — que Guedes quer cortar — é tão importante?

 Um retrato fiel do presente nos prepara para o futuro. E quanto mais bem feita a contagem, menor o risco de desperdiçar dinheiro público

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O ministro Paulo Guedes quer passar a tesoura no Censo de 2020. A pesquisa, feita a cada dez anos pelo IBGE, perdeu 25% do orçamento previsto. Muitos pesquisadores e demógrafos temem que ela sequer aconteça. Mas afinal, por que essa contagem é tão importante?

A resposta é bem o simples: sem dados precisos e detalhados, é impossível formular boas políticas públicas. E isso vale tanto para o governo federal quanto para cidades e estados. Como saber, por exemplo, quais os lugares mais afetadas por uma doença que precisa de vacinas? E em qual região as crianças com algum tipo de deficiência mais estão fora da escola?

Quanto mais bem feita a contagem, menor o risco de desperdiçar dinheiro público.

O Censo existe no Brasil desde 1872. É a única pesquisa, até hoje, que vai a todas as casas do País. Os resultados são avaliados por cinco grandes eixos temáticos: habitação e de mobilidade; projeção populacional; transferência de renda; mercado de trabalho e educação e garantia de direitos e de igualdade de oportunidades.

O modo de fazer essa contagem reflete um projeto político. Nos anos 70, em plena ditadura, o quesito ‘cor’ deixou de ser pesquisado. Essa pergunta só voltaria aos questionários em 1991. Com isso, o País passou quase trinta anos sem conhecer a realidade da população preta e parda, hoje sabidamente a base da pirâmide social, a que mais morre por violência policial e que, ainda hoje, ganha salários 80% menores que o dos brancos.

As etnias da população indígenas só passaram a ser contadas individualmente a partir do Censo de 2010, o mais recente até agora. Para dar conta das mudanças na família brasileira, o questionário também ganhou 19 laços de parentesco — incluindo casais gays, casais sem filhos e lares monoparentais.

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Os argumentos do governo

A bronca do governo Bolsonaro com o Censo não é nova. Em fevereiro, Guedes já disse que Censo era caro demais e sugeriu que o IBGE vendesse prédios para financiar a pesquisa. O ministro da Economia diz que Censo brasileiro ‘faz 360 perguntas’ enquanto o questionário de países desenvolvidos teriam ‘dez ou doze perguntas’, conforme disse em entrevista recente à GloboNews.

 

É mentira: dos países-membros da OCDE, só os Estados Unidos têm um questionário tão curto. Em Israel, por exemplo, há quase cem questões. Além disso, o questionário básico do IBGE tem 49 questões. Esse número só cresce nas pesquisas por amostra — feitas em 11% dos domicílios —, que aferem 119 perguntas.

Depois dessa entrevista, o médico Dráuzio Varella gravou um vídeo em defesa da pesquisa, e listou os riscos desse apagão estatístico. Segundo ele, ficar sem o Censo é  “não ter o mínimo de informações necessárias para proporcionar bem-estar à população”.

Em nota, o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Wellington Leonardo da Silva, aponta que o maior custo do Censo — o deslocamento e o tempo que o recenseador demora para ser recebido — não cairia com um questionário mais curto. Hoje em dia, a maioria das famílias brasileiras é composta de três pessoas. Dessa forma, o questionário longo não levaria tanto tempo para ser preenchido.

“Há um bloco para quem está inserido no mercado de trabalho que não será respondido por aqueles que apenas estudam”, exemplifica.

Nesta próxima edição, 220 mil recenseadores vão visitar mais de 70 milhões de lares nas 5.570 cidades. Com questionário curto ou longo, a obrigação de visitar todas as casas do país continua.

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