Política

Por que o aumento do Auxílio Brasil não fez Bolsonaro decolar nas pesquisas

Dados da nova rodada da pesquisa Quaest apontam duas hipóteses possíveis para o fenômeno

Foto: EVARISTO SA / AFP
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Agosto chega ao fim sem que a expectativa da campanha de Jair Bolsonaro (PL), de ampliar suas intenções de voto com o aumento do Auxílio Brasil, tenha se concretizado. No último levantamento da Quaest, divulgado nesta quarta-feira 31, o ex-capitão aparece estagnado no cenário geral e vê Lula (PT) com quase 30 pontos de vantagem entre os beneficiários do programa de transferência de renda. Ao todo, o petista soma 54% de votos no grupo, ante 25% do ex-capitão.

Mas por que Bolsonaro não conseguiu converter seu pacote de bondades em intenções de voto? O cientista político Felipe Nunes, pesquisador responsável pela Quaest, tem duas hipóteses, que, segundo explica, vem se confirmando com os dados do levantamento ao longo do último mês.

A primeira delas, destaca o cientista, é o fato de que as medidas foram percebidas como eleitoreiras pela população. O teor do programa, portanto, foi recebido negativamente pelos beneficiários. “Isso retira a gratidão sobre a ação”, analisa Nunes.

O cientista destaca que o ‘ponto de virada’ nessa questão foi a divulgação intensa do ‘prazo de validade’ do aumento, que vai só até dezembro e, segundo o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2023 do próprio governo federal, não está garantido para o ano que vem.

“Isso [Bolsonaro não ter conseguido converter o aumento em votos] se deu, em especial, quando as pessoas ‘descobriram’ que o novo valor do Auxílio tinha data para terminar e voltar ao seu valor original”, destaca. “Colocar uma data de fim reforçou a ideia de que não era por altruísmo, mas por interesse próprio do governo”.

A primeira hipótese ganha força, segundo o pesquisador, ao observar dois outros dados da pesquisa desta quarta-feira. O primeiro ponto é o alto nível de conhecimento sobre o aumento no valor do programa. Ao todo, 84% dos entrevistados sabem que o auxílio saltou de 400 para 600 reais no último mês. Outro ponto essencial é que a ‘autoria’ da medida é atribuída a Bolsonaro, ou seja, a população conhece o aumento e sabe que a medida foi tomada pelo ex-capitão.

Os números indicam, portanto, que o timing da ação foi determinante para a frustração da expectativa da campanha de Bolsonaro. Ao serem questionados sobre a motivação para o aumento, 63% dos brasileiros entrevistados disseram que a ação foi apenas para ‘ajudar a reeleição de Bolsonaro’. Só 31% indicam ver intenção de ‘ajudar a população’.

Há ainda, de acordo com Nunes, uma segunda hipótese para explicar a não conversão do pacote de bondades em votos: a inflação dos alimentos. “O que mais importa para o eleitor de baixa renda, que são os alimentos, não sofreram uma queda significativa de preço. Só 18% sentiram redução”.

Os maiores ‘avanços’ na economia, conforme mostram os dados, foram sentidos na gasolina e no preço da energia elétrica. “A classe média foi quem mais sentiu os efeitos da redução [da inflação]”, analisa Nunes. O fato, segundo o pesquisador, ajuda a explicar a ineficácia eleitoral da PEC de Bolsonaro. “Acredito que os eleitores de Lula vão comemorar a estabilidade da diferença entre os dois candidatos. Os eleitores de Bolsonaro se organizarão ainda mais para tentar mostrar força no 7 de setembro”.

Os dados da Quaest desta quarta-feira tem como base 2 mil entrevistas presenciais realizadas entre os dias 25 e 28 de agosto. A margem de erro do levantamento é de 2 pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%. O levantamento foi contratado pela consultoria de investimentos Genial e está registrado como BR-00585/22 no Tribunal Superior Eleitoral.

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