Na Nova República, o PMDB sempre cumpriu o papel de centro, de eixo do sistema político-partidário brasileiro. Um papel semelhante àquele do Partido Social Democrático (PSD) nas décadas de 50/60 do século passado.
A inserção do PMDB na estrutura estatal, ao longo do território brasileiro, as centenas de lideranças locais e regionais e certa tradição democrática tornavam-no uma organização da qual todos dependiam (e até certo ponto dependem) para vencer a eleição presidencial e governar a União.
A partir da vitória eleitoral da chapa Dilma-Temer (PT-PMDB) em 2014, observa-se uma mudança política e programática nos principais quadros nacionais do partido.
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Esta mudança materializa-se na publicação do texto “Ponte para o futuro”, um programa de cunho liberalizante, oposto ao defendido pela chapa vitoriosa. Também na participação ativa na construção do “Centrão”, que agrega parte importante dos setores mais conservadores da sociedade. E no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Ao assumir o cargo de chefe do poder executivo da União (Presidência da República), o PMDB avança em marcha acelerada para posições muito próximas daquelas do PSDB, organização partidária que havia surgido no início da Nova República como divisão do próprio PMDB.
O giro estratégico-eleitoral à direita no campo político, esta reaproximação do criador com a criatura, são acompanhados de medidas persecutórias contra setores importantes do partido que possuem ou advém de tradições políticas da centro-esquerda democrática. Tradições estas que originaram quadros como Ulysses Guimarães e Roberto Requião.
Por que a atual maioria da direção nacional do PMDB quer expulsar o senador Requião? Obviamente não é por um ou outro voto contrário à orientação da legenda no Senado.
Como Requião representa, na atualidade, o PMDB de tradição mais democrática, mais próximo às questões sociais, a iniciativa de expulsá-lo é, na verdade, a tentativa de calar o que ainda resta do PMDB forjado na luta pela redemocratização brasileira. Representa uma tentativa explícita de isolar atores políticos que fizeram do partido o centro do sistema político-eleitoral do País.
A expulsão do senador é a aposta na consolidação do PMDB nacional como uma organização com características mais conservadoras na política e no método disciplinar. O PMDB é muito grande e muito bem inserido na sociedade brasileira, o que faz com que seus setores mais ligados à realidade dos trabalhadores e das pequenas e médias localidades não vejam com bons olhos esta expulsão e o que ela significa.
* Deputado federal pelo PMDB-RJ