Política
Por que, apesar dos escândalos, Bolsonaro deve manter Ramagem candidato no Rio
Inicialmente, o ex-presidente se irritou com o fato de ter sido gravado. Depois de uma operação interna capitaneada por Flávio, contudo, a temperatura baixou


Jair Bolsonaro (PL) está decidido a manter apoio à pré-candidatura de Alexandre Ramagem na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro, apesar de ter sido gravado por ele discutindo formas de blindar seu filho, o senador Flávio, em investigações sobre as ‘rachadinhas’.
O áudio foi descoberto pela Polícia Federal durante operação que mirou servidores envolvidos na chamada ‘Abin paralela’, esquema montado na agência, sob a chefia de Ramagem, para espionar adversários do ex-capitão.
Inicialmente, o ex-presidente se irritou com o fato de ter sido gravado por alguém da sua confiança e cogitou tirar o aliado da disputa. Ventilou-se trocá-lo pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que hoje ocupa uma vaga na Câmara, estratégia endossada por uma ala do PL. Pazuello, contudo, é sempre lembrado pelo fiasco na gestão na pandemia de covid-19.
Depois de uma operação interna capitaneada por Flávio, a temperatura baixou. Retirar o ex-diretor da Abin do páreo, repetiu o senador ao pai, seria desmontar a narrativa de perseguição à qual Bolsonaro e seus aliados recorrem desde que o cerco judicial contra eles começou a se fechar. O ex-presidente concordou, mas vaticinou que a decisão era “momentânea”.
Questionado na última sexta-feira, o manda-chuva Valdemar Costa Neto afirmou a CartaCapital que o diretório do Rio (leia-se Bolsonaro) terá “total autonomia” para decidir se manterá ou não a candidatura de Ramagem.
Na gravação, Bolsonaro, Ramagem, o general Augusto Heleno (à época chefe do GSI) e duas advogadas de Flávio discutem como retaliar auditores da Receita Federal que fizeram um pente-fino nas contas do senador. O relatório de inteligência contribuiu para as investigações sobre o suposto esquema de rachadinhas na Alerj.
O encontro aconteceu em 25 de agosto de 2020, no Palácio do Planalto. Três dias depois da reunião, a cúpula da Receita abriu procedimento interno contra os responsáveis pela devassa nas movimentações bancárias do parlamentar. O caso também foi alvo de apuração no Serpro, órgão de processamento de dados do governo federal.
Para justificar o autogrampo, Ramagem foi às redes sociais afirmar que gravou a audiência com aval do ex-chefe. Motivo? Protegê-lo da apresentação de um crime que, segundo ele, não aconteceu. O entorno de Bolsonaro ainda vê essa versão com reservas, mas avalia que o áudio não implicou diretamente o ex-presidente.
A explicação do ex-diretor da Abin também não convenceu investigadores da PF, que o aguardam para um depoimento nesta quarta-feira. Outros servidores da Agência foram convocados a prestar esclarecimentos sobre o esquema de arapongagem montado no órgão nos próximos dias.
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