Política
Por que a campanha de Ratinho Jr. à Presidência (que já começou) não deve vingar
O cálculo político do PSD para apoiar o vencedor de 2026 e a baixa projeção nacional de Ratinho Jr. jogam contra seus planos, avalia o cientista político Mateus de Albuquerque


Ratinho Jr. (PSD) já não esconde mais o desejo – ou ‘grande sonho’, nas próprias palavras – de ser candidato à Presidência em 2026. Dois resultados recentes deram confiança ao paranaense: sua grande vantagem sobre o segundo colocado na disputa pelo governo do Paraná em 2022 e o alto índice de aprovação que acumula após quase sete anos no comando do estado.
Ainda assim, o cálculo político de Ratinho está furado. É o que pontua o cientista político Mateus de Albuquerque, pós-doutorando do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Representação e Legitimidade Democrática (INCT/ReDem), da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo ele, o governador ignora pelo menos dois fatores que tornam improvável a transformação da pré-campanha em candidatura viável.
O primeiro deles é o cálculo político delicado que o PSD faz para estar no barco vencedor em 2026. Ter uma candidatura própria como a de Ratinho, defende Albuquerque, pode dificultar os planos do partido de nadar com a maré durante a campanha e depois da eleição.
Albuquerque afirma que o governador tem perfil associado à direita, mas enfrenta resistência do bolsonarismo por ter evitado o negacionismo na pandemia e não defender anistia a golpistas. Esse perfil intermediário não conquista os radicais de direita nem os progressistas críticos ao governo Lula. Com a polarização ainda presente, candidaturas de “terceira via” seguem com baixa adesão popular.
Essa pouca neutralidade pode ser um obstáculo na formação de uma aliança com Lula em caso de vitória do petista. Uma candidatura à direita que desafie Bolsonaro também pode dificultar a vida do PSD diante de uma eventual vitória da extrema-direita. Dificilmente, avalia Albuquerque, o partido será colocado para fora de um governo, mas entrar de cabeça em uma disputa contra os dois mais cotados ao cargo pode significar ter que aceitar cadeiras de menor grau de importância na Esplanada.
“Um dos horizontes possíveis é o do PSD lançar uma candidatura própria, mesmo sabendo que ela não será competitiva para poder, independente de quem ganhar, conseguir angariar uma vaga no governo. Mas essa candidatura precisa ser mais neutra e capaz de circular nos dois lados”, destaca Albuquerque.
“O PSD tem esse nome para ser o candidato ‘isentão’ e negociar com qualquer um dos lados. É Rodrigo Pacheco”, avalia, destacando ainda o caráter nacional da figura e o bom trânsito do ex-presidente do Senado entre os espectros políticos. “Tenho dificuldades de visualizar o Ratinho cumprindo esse papel.”
A falta de projeção nacional é justamente o segundo motivo que leva o cientista a crer no baixo potencial de Ratinho em 2026 Mesmo filho de um apresentador de TV popular e com boa audiência no país inteiro, as limitações legais para o uso da imagem do pai dificultariam a vida do governador. Ratinho, segundo uma pesquisa Quaest lançada nesta quinta-feira 3, é desconhecido por mais da metade (51%) da população e rejeitado por 29% daqueles que o conhecem. Só 20% dizem que conhecem e poderiam votar no paranaense em alguma circunstância.
As tentativas de nacionalizar sua gestão também fracassaram. A adoção de escolas cívico-militares e a entrega de colégios públicos à iniciativa privada, embora pioneiras no Paraná, só ganharam destaque quando foram implementadas por Tarcísio em São Paulo. Na opinião pública, o “pai da criança” é o governador paulista.
“Para os paranaenses isso às vezes soa um pouco amargo, mas a política do estado não ressoa nacionalmente como o que é feito no Rio, em São Paulo ou Minas Gerais. Até estados com PIB menor, como é Pernambuco, por exemplo, têm dinâmicas que são mais relevantes nas disputas nacionais do que o Paraná”, defende.
Não se pode desconsiderar também Tarcísio de Freitas (Republicanos), o mais provável candidato do bolsonarismo caso o ex-capitão não consiga reverter a inelegibilidade. Se ele for mesmo o escolhido, Gilberto Kassab, o chefão do PSD, já indicou que pode mudar a estratégia de ‘neutralidade’ e embarcar na campanha. “A chapa que o Tarcísio apoiar será a chapa do PSD”, chegou a dizer recentemente a uma plateia de empresários em São Paulo. Em troca, ele poderia receber a benção do governador para ser o substituto no Palácio dos Bandeirantes. O sonho de Ratinho, neste caso, estaria automaticamente sepultado.
Em ritmo de festa: eventos com a presença de Ratinho Jr. agora contam com elementos típicos de campanha, como confetes e serpentinas. Fotos: Divulgação/Agência Estadual de Notícias
Ratinho tem tentado driblar o obstáculo adotando um ritmo de candidato desde o final de 2024. No verão, por exemplo, promoveu grandes shows no Litoral que foram transmitidos nacionalmente no SBT, emissora que tem ligação direta com seu pai. Os anúncios de obras e investimentos também passaram a contar com aparatos de festas, como locuções, shows de luzes e, principalmente, confetes e serpentinas. Os eventos têm gerado um vasto banco de imagens que, certamente, vão abastecer a campanha eleitoral em 2026.
O novo Moro?
Nos bastidores, aliados afirmam que Ratinho sabe das limitações e mira, na verdade, o Senado. Em 2026, serão duas vagas para a Casa. “Ele não admite abertamente, mas está claramente mirando o Senado, como fez Sergio Moro. Lança-se à Presidência, faz barulho e se elege com facilidade para outro cargo”, confidencia um integrante da equipe de campanha.
Para Albuquerque, a movimentação também visa fortalecer o PSD no Paraná. Enquanto Ratinho testa sua viabilidade nacional, outro nome pode crescer como candidato ao Senado, deixando o governador livre para tentar manter o controle do Palácio Iguaçu.
Apesar disso, Ratinho ainda não definiu um sucessor. Nenhum nome se destacou nas pesquisas, e o cenário está indefinido. “A sucessão no governo é uma dor de cabeça. Na eleição de Curitiba, ele já teve dificuldades para emplacar seu candidato. Ao se lançar a cargos maiores, pode transferir visibilidade ao apadrinhado”, explica o cientista político.
O modelo de Moro — lançar-se à Presidência e acabar no Senado — é o espelho, mas envolve riscos. O ex-juiz quase perdeu a vaga por abuso de poder econômico, após alongar a pré-campanha e extrapolar o teto de gastos.
Cabo eleitoral influente
Mesmo sem se viabilizar ao Planalto, Ratinho deve ter papel relevante em 2026. Ele é quem dá as cartas no PSD do Paraná, que tem uma estrutura partidária robusta, rica e pouco comparável a diretórios da sigla em outras regiões do País. Poucos estados, convém lembrar, fizeram mais prefeitos para o partido do que o Paraná.
“A máquina do PSD no estado é uma coisa à parte, uma coisa com vida própria, e pode ser muito relevante eleitoralmente”, afirma Albuquerque ao mencionar a ajuda econômica e o volume de palanques que o partido pode oferecer a um aliado em 2026.
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