Política
Políticos reagem à MP de Bolsonaro, que é chamado de “genocida” nas redes
Líderes da oposição e de partidos rechaçam medida que prevê o cancelamento dos contratos de trabalho por 4 meses
A Medida Provisória 927 chegou na madrugada, sem fazer alardes, mas a paz não durou muito tempo: a intenção do governo federal de possibilitar que patrões suspendam salários por quatro meses gerou um turbilhão de reações negativas em relação a como o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe econômica têm lidado com a crise do coronavírus.
Para além do negacionismo do presidente ao se tratar do perigo do vírus – que, para ele, é só uma “gripezinha” e “histeria” da imprensa -, Bolsonaro agora é questionado sobre sua capacidade de se importar com a vida do trabalhador brasileiro. Nas redes sociais, o presidente do País é chamado de “genocida”.
Líderes da oposição e figuras do centrão se posicionaram de maneira quase unânime para criticar a medida provisória. Outras figuras do espectro político, como o coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, também publicaram suas ressalvas. Para ele, derrubar Bolsonaro é uma “questão de sobrevivência”.
É inacreditável. Inacreditável:
MP de Bolsonaro deixa trabalhadores sem salário nos próximos 4 meses. Enquanto outros países estão proibindo demissões e garantindo salários, ele libera a suspensão dos contratos sem pagamento. Derrubar este canalha virou questão de sobrevivência!
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) March 23, 2020
A maioria dos políticos acredita que o Congresso necessita se unir para derrubar o projeto. Por ser uma medida provisória, as alterações passam a valer a partir da publicação no Diário Oficial da União, o que foi feito na noite do domingo 22. No entanto, os parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado têm até 120 dias para aprovarem ou rejeitarem as alterações previstas no texto.
Esse é o posicionamento do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e de Ciro Gomes, candidato à presidência da República em 2018 e ex-governador do Ceará, que publicaram mensagens nas redes sociais contra a MP.
Não deixaremos Bolsonaro matar os brasileiros de fome. Já estamos acionando o STF e vamos derrubar a MP 927 no Congresso. Não permitiremos que o governo deixe trabalhadores sem salário por 4 meses. Em vez de cortar, temos que garantir a renda de todas famílias. #BolsonaroGenocida pic.twitter.com/LjhLKN9IbK
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) March 23, 2020
Isto é um crime inaceitável! O Supremo será acionado contra esta violência ! O Congresso Nacional precisa se reunir virtualmente e rejeitar este absurdo genocida! https://t.co/DrEGUSXFpE
— Ciro Gomes (@cirogomes) March 23, 2020
Marina Silva, também presidenciável nas últimas eleições pela Rede Sustentabilidade, publicou que a MP era “desumana” e que passava um recado do governo aos trabalhadores: “vocês que se virem, e se sobreviverem à fome e ao coronavírus, quem sabe terão emprego depois da crise!”.
É extremamente desumana a MP editada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, que escolheu preservar as empresas em prejuízo dos salários de milhões de trabalhadores e trabalhadores durante 4 meses.
— Marina Silva (@MarinaSilva) March 23, 2020
Flávio Dino, governador do Maranhão pelo PCdoB e antiga inimizade de Bolsonaro entre os líderes estaduais, também publicou mensagem cravando que o Brasil está na direção errada.
Outros países do mundo, como a Alemanha e o Reino Unido, por exemplo, adotaram medidas de subsidiar parte dos salários para proteger, ao mesmo tempo, patrão e empregado – ambos atingidos por um cenário econômico que não tem data para acabar. “Caminho errado: jogar trabalhadores à própria sorte sem nenhuma proteção. O caminho certo tem sido adotado em vários países. O caminho errado só no Brasil”, escreveu Dino.
Caminho certo: mobilizar crédito abundante dos bancos públicos para MANTER salários dos trabalhadores, sem quebrar empresas. Caminho errado: jogar trabalhadores à própria sorte sem nenhuma proteção. O caminho certo tem sido adotado em vários países. O caminho errado só no Brasil
— Flávio Dino 🇧🇷 (@FlavioDino) March 23, 2020
Deputados alinhados ao centro também se manifestaram contra a MP. Tabata Amaral (PDT-SP), que também faz parte de grupos suprapartidários como o Movimento Acredito, publicou que a MP demonstrava como o governo não sabia lidar com a crise do coronavírus. “Ao invés de garantir a estabilidade ao trabalhador e mais recursos na economia, o governo deu um tiro no pé. Vamos derrubar”, escreveu.
Bolsonaro mostra não ter a menor capacidade de resolver a crise. Suspender o contrato de trabalho por 4 meses é afundar os brasileiros e a economia. Ao invés de garantir a estabilidade ao trabalhador e mais recursos na economia, o governo deu um tiro no pé. Vamos derrubar. https://t.co/tw1XRdJmF1
— Tabata Amaral (@tabataamaralsp) March 23, 2020
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, fez um apelo aos presidentes das casas Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP) para não aceitarem a MP no Congresso. Nesse caso, ela sequer iria à votação dos parlamentares e perderia sua validade. “Devemos cobrar soluções lúcidas para o povo brasileiro, em especial aos trabalhadores mais pobres”, escreveu o senador.
Os presidentes @RodrigoMaia e @davialcolumbre não devem aceitar essa MP de Bolsonaro! Ela precisa ser devolvida. Devemos cobrar soluções LÚCIDAS p/ o povo brasileiro, em especial aos trabalhadores mais pobres. Se aceitarem, atuarei na linha d frente contra a aprovação. #mpdamorte
— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) March 23, 2020
A medida ecoou até mesmo entre os aliados do presidente, como senador Major Olímpio (PSL-SP). “Não podemos apagar fogo com gasolina”, escreveu nas redes sociais, acrescentando que a MP prejudica os trabalhadores sem dar respaldo a eles.
NÃO PODEMOS APAGAR FOGO COM GASOLINA.
A MP do Governo Federal prejudica demais os trabalhadores sem dar um respaldo para eles. É preciso liberar o FGTS e o Seguro desemprego para que esses trabalhadores tenham como se sustentar nesse período difícil. pic.twitter.com/kdHXtq2NrU— Major Olimpio (@majorolimpio) March 23, 2020
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.