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Polícia Legislativa da Câmara expulsa e agride jornalistas
Motta afirmou que mandou investigar ‘possíveis excessos’ de agentes do Depol contra a imprensa
Jornalistas e deputados foram agredidos nesta terça-feira 9 na Câmara por agentes do Departamento de Polícia Legislativa logo após a remoção, à força, de Glauber Braga (PSOL -RJ) da Mesa Diretora da Casa. Ele ocupava a cadeira do presidente em protesto à tentativa de cassar seu mandato, mas foi retirado por policiais legislativos.
Os agentes também impediram profissionais da imprensa de acompanharem o tumulto no plenário. Glauber ocupou a cadeira de Hugo Motta (Republicanos-PB) logo após o paraibano anunciar que pautaria a representação que defende a cassação do psolista para esta quarta-feira 10. “Ficarei aqui até o limite das minhas forças”, disse o deputado.
No momento em que o psolista ocupou a Mesa, os parlamentares faziam pronunciamentos no chamado “pequeno expediente”. Nesta fase da sessão plenária, os deputados podem se manifestar em até cinco minutos sobre os mais variados temas.
Policiais legislativos, então, expulsaram repórteres do plenário e das galerias para que não houvesse registro do momento em que o parlamentar fosse retirado da cadeira. No momento em que policiais se preparavam para retirar Glauber à força, os sinais da TV Câmara foram cortados e a programação foi interrompida.
Quando o deputado estava sendo retirado do plenário pela mesma polícia legislativa, profissionais de imprensa foram empurrados no Salão Verde por policiais. Veja um dos registros:
Após o tumulto, Motta afirmou em postagem nas redes sociais que mandou investigar “possíveis excessos” de agentes do Depol contra a imprensa. O presidente da Câmara ainda não explicou se deu ordem para que jornalistas fossem retirados e/ou barrados do plenário e das galerias, nem se avalizou o uso da força contra os profissionais da imprensa e deputados.
Em nota, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, a Associação Nacional de Editores de Revistas e a Associação Nacional de Jornais condenaram “o cerceamento ao trabalho dos jornalistas que acompanhavam a sessão plenária”.
“O impedimento do trabalho de jornalistas e o corte de sinal da TV Câmara são incompatíveis com o exercício da liberdade de imprensa”, diz a nota, que cobra a apuração de responsabilidades “para que tais práticas de intimidação não se repitam e que sejam preservados os princípios da Constituição Brasileira, que veda explicitamente a censura”.
Quem também se manifestou foi a Federação Nacional dos Jornalistas. Em comunicado conjunto com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, a entidade se solidarizam com os profissionais agredidos e cobraram um posicionamento do chefe da Câmara.
“Não podemos admitir que medidas autoritárias, que remontam às vividas em um período não tão distante durante a ditadura militar, sejam naturalizadas e se repitam em nosso Congresso Nacional – que deveria ser a casa do povo e não de quem ataca os direitos da população. Seguimos atentos e acompanhando os desdobramentos desse lamentável e absurdo episódio”.
Glauber está na mira da cassação sob acusação de quebra de decoro parlamentar por ter expulsado, aos empurrões, um militante do Movimento Brasil Livre. O episódio ocorreu no ano passado. Gabriel Costenaro, que estava na Câmara na ocasião para participar de uma manifestação em apoio a motoristas de aplicativos, ofendeu o deputado e chamou sua mãe de “corrupta”.
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