Política
Polícia investiga golpistas por tortura de homem que criticou atos antidemocráticos
Vítima foi obrigada a sair da Santa Catarina por medo das ameaças do manifestantes bolsonaristas


A Polícia Civil de Santa Catarina investiga bolsonaristas que coagiram um homem a participar dos atos golpistas no domingo 20, em Itapema, Litoral Norte do estado.
A defesa da vítima afirmou que ele teria sido atraído para um endereço e ficou em poder do grupo por pelo menos 5 horas. O homem foi forçado a repetir frases em apoio aos atos, pisar em boné e agitar bandeiras. A polícia apura possível tortura.
Em vídeos que circulam na internet, o homem foi forçado a usar um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, enquanto repetia frases ditadas pelo grupo.
“Estou aqui me retratando, tomando café com povo do Bolsonaro, com brasileiros”, diz a vítima no vídeo.
No dia anterior aos fatos, o homem, que trabalha com fretes, gravou um vídeo dizendo estar na frente “dos bolsonaristas” onde foi “tomar um café e beber uma água”, em tom de crítica.
Na tarde do domingo, teria recebido uma ligação para buscar um sofá em um edifício no bairro Meia Praia. Segundo o advogado que representa a vítima, a chamada foi uma armadilha.
“Chegou ao endereço e já foi cercado pelo grupo. Eles tomaram os pertences dele, a chave da kombi, carteira e o agrediram, humilharam. Depois colocaram ele dentro de uma Hilux, estava sem liberdade total, e o levaram até a BR-101, onde ocorriam as manifestações”, relata.
Ele foi forçado a participar dos atos antidemocráticos, com bandeiras do Brasil presas ao corpo.
Para a defesa, o video em que o homem criticava os atos antidemocráticos teria caído em grupos bolsonaristas da região, que resolveram repreendê-lo.
Após passar cerca de 5 horas em poder do grupo sofrendo coação, a vítima foi liberada. No entanto, continuou recebendo ameaças de morte nos dias seguintes.
“Depois de sair do ato, onde mais de 40 pessoas ficaram xingando e ameaçando ele, continuou recebendo ameaças para não denunciar”, disse a defesa.
Casos de violência por parte dos manifestantes tem se intensificado nos últimos dias.
No Tocantins, policiais civis foram hostilizados por bolsonaristas que ocupam a frente do 22º Batalhão de Infantaria do Exército, em Palmas. Os agentes estavam no local para verificar a presença de crianças e adolescentes no local, seguindo orientação do Conselho Nacional de Justiça.
Em Rondônia, a tubulação de água tratada da cidade de Ariquemes foi destruída por supostos manifestantes, deixando a população da cidade sem acesso à água.
No Mato Grosso, bolsonaristas impediram que um pai passasse pelos bloqueios para levar seu filho que precisava fazer uma cirurgia para manter a visão. O grupo ameaçou o homem com facões.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

CNJ determina que juizados investiguem a presença de crianças em atos golpistas
Por CartaCapital
PRF anuncia operação para prender líderes de atos golpistas, mas recua horas depois
Por CartaCapital