O crime não ficará impune.” Apesar de recorrer a um surrado e quase sempre mentiroso clichê, uma vez que somente 16% dos casos de homicídio são solucionados no Rio de Janeiro, desta vez o secretário de Polícia Civil, José Renato Torres, tinha razão. Com ligeireza jamais vista, apenas 11 horas após a bárbara execução, na quinta-feira 5, de Marcos de Andrade Corsato, Diego Ralf Bonfim e Perseu Ribeiro Almeida – três médicos que participavam de um congresso de Ortopedia e inocentemente tomavam cerveja em um quiosque na orla carioca –, o caso estava solucionado. O problema é que a rápida “resolução” não derivou de um surto de eficiência da polícia fluminense. Quem prendeu, julgou, condenou e executou a sentença dos autores e do mandante do crime foi o “tribunal do tráfico”, em mais um episódio que desnuda a falência das políticas de segurança pública e o elevado grau de organização e ousadia do poder paralelo no Rio.
Trata-se de um território conflagrado, sobretudo na capital, hoje disputada bairro a bairro por traficantes e milicianos. A população, a depender de sua renda e localização geográfica, padece com a ausência, a ineficiência ou a truculência de um efetivo policial em muitos casos conivente com o crime. Nesse contexto, não cessa de crescer o mapa de confrontos violentos que envolvem diversas facções, dissidências e alianças – inclusive entre traficantes e milicianos – em um quadro complexo que desafia as autoridades estaduais. Estas, no caso dos médicos assassinados, acabaram expostas ao ridículo. Enquanto a cúpula da segurança, em rápido pronunciamento, sugeria que uma das vítimas poderia ter sido confundida com um miliciano e os homicídios cometidos por engano, a cúpula do poder paralelo já havia tomado a dianteira.
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