Política

Pizzolato, uma história esquecida

O ex-diretor do Banco do Brasil recebeu do valerioduto para incriminar Luiz Gushiken

O ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato: de nome favorito de Daniel Dantas para comandar fundos de pensão à fuga para a Itália
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Nestes anos de longa e insana disputa política provocada pelo escândalo do “mensalão”, os fatos tomaram uma goleada no confronto com as versões. Muitas histórias importantes para entender os acontecimentos se perderam pelo caminho. Foram convenientemente esquecidas por não se encaixar na tese central que conduziu o julgamento no Supremo Tribunal Federal.

É claro que o ex-diretor de Marketing do Banco Brasil Henrique Pizzolato não poderia ter pagado sozinho a conta dos repasses de dinheiro ao fundo Visanet, dada a lista de funcionários do BB que assinaram autorizações semelhantes ou que tinham mais poder no processo de decisão. É óbvio que os publicitários Cristiano Paz e Ramon Hollerbach reuniram provas suficientes do uso legal da verba publicitária do cartão de crédito. A documentação, periciada por consultoria independente, não deixa dúvidas sobre os repasses a meios de comunicação e a esportistas patrocinados pelo cartão de crédito do banco. Ou seja, os mais de 70 milhões foram parar nos cofres da Globo e companhia e não no bolso de políticos.

Mas há um furo neste roteiro. Pizzolato recebeu 326 mil reais de Marcos Valério. Ele garante ter repassado os recursos ao PT. Nunca explicou, porém, o motivo de ter lançado à lama o nome de Luiz Gushiken. Vamos relembrar: pressionado, Pizzolato, em vez de dizer que os contratos das agências de Valério com a Visanet foram assinados no governo Fernando Henrique Cardoso e que ele apenas seguiu o padrão ao autorizar os repasses, preferiu jogar a responsabilidade da liberação do dinheiro sobre as costas do então secretário de Comunicação do governo Lula. Seu depoimento baseou a denúncia do Ministério Público contra Gushiken, mais tarde inocentado pelo Supremo. Vilipendiado e doente, o ex-ministro ainda teria tempo de ver sua inocência confirmada antes de morrer.

À época do depoimento de Pizzolato estava em curso o maior lobby feito por Marcos Valério no governo: a defesa dos interesses de Daniel Dantas. O banqueiro queria submeter à sua vontade os fundos de pensão de empresas estatais sócios do Opportunity em telefônicas privatizadas. Gushiken estava do lado dos fundos. Outros integrantes do governo se associaram a Dantas em uma guerra intestina por trás dos muros palacianos.

Marcos Valério foi a Lisboa, naquela famosa viagem tão noticiada, em companhia de Emerson Palmieri, então tesoureiro do PTB, para negociar a venda da Telemig Celular à Portugal Telecom por 5 bilhões de reais. O dinheiro seria usado pelo Opportunity para comprar a parte da Telecom Italia na BrT, que operava no Centro-Oeste e Sul do Brasil.

Era necessário, porém, obter o aval dos fundos de pensão. Sob a liderança de Sérgio Rosa, presidente da Previ, fundação do Banco do Brasil, os dirigentes da Funcef (Caixa) e Petros (Petrobras) resistiam. Quem lhes dava sustentação política era Gushiken.

O plano de Dantas e seus aliados no governo visava derrubar Rosa da Previ, o mais rico e influente dos fundos, e instalar um nome simpático à transação que beneficiaria o banqueiro e prejudicaria os cofres públicos. Quem? Pizzolato estava entre os cotados.

CartaCapital narrou este enredo em mais de uma edição ao longo de 2005 e 2006. Consta que um inquérito paralelo ao do “mensalão” de número 2474, em tramitação, reuniria novos detalhes do caso e evidências da participação de Dantas no esquema. Falta Joaquim Barbosa adotar o mesmo “padrão Fifa” de eficiência e tirar o processo da gaveta.

PS: Quando o governo costurou a patranha da BrOi, a fusão da BrT com a OI, operação que rendeu mais de 1 bilhão de reais a Dantas, Pizzolato mudou seu depoimento e retirou as acusações contra Gushiken.

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