Política

PGR vai investigar supostos pagamentos da JBS ao advogado Frederick Wassef

Investigação quer esclarecer se repasses tiveram efeito na colaboração premiada firmado com executivos da empresa

Advogado Frederick Wassef junto do senador Flávio Bolsonaro. Foto: Reprodução.
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A Procuradoria Geral da República (PGR) decidiu instaurar inquérito para apurar supostos pagamentos feitos pela empresa JBS ao advogado Frederick Wassef, que trabalhou para a família Bolsonaro.

A investigação, instaurada na quinta-feira 20, quer esclarecer se os repasses tiveram efeito no acordo de colaboração premiada firmado pela Procuradoria com os executivos da empresa.

A PGR afirmou, em nota, que vai solicitar informações ao Ministério Público do Rio de Janeiro, que teria identificado os pagamentos por meio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

“Eventual irregularidade poderá reforçar os indícios de omissão nos acordos de colaboração premiada dos executivos da companhia”, afirmou a Procuradoria.

Segundo revelou a revista “Crusoé”, Wassef teria recebido 9 milhões de reais da JBS e tentado atuar junto à PGR.

Ainda de acordo com a publicação, o presidente Jair Bolsonaro pediu ao procurador-geral da República, Augusto Aras, para receber Wassef a fim de tratar do acordo de colaboração premiada da empresa, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

Envolvimento com a família Bolsonaro

Além de se apresentar como advogado do presidente, e frequentar o Palácio do Planalto, Wassef trabalhou na defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso das chamadas “rachadinhas”.

Flávio Bolsonaro é alvo de investigação

O senador é alvo de investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) por suspeita de lavagem de dinheiro a partir dos recursos desviados de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), quando era deputado estadual.

Na quinta-feira 20, uma reportagem veiculada pela TV Globo, com base nas investigações do MP-RJ, revelou que a loja de chocolates de Flávio recebeu 1.512 depósitos em dinheiro vivo, entre 2015 e 2018.

Pelo documento da investigação, em 28 de novembro de 2016, por exemplo, foram sete depósitos fracionados de 3 mil reais. No dia 18 de dezembro de 2017, mais 10 depósitos de 3 mil e no dia 25 de outubro de 2018 foram 11  de 3 mil.

Segundo os procuradores, os valores são desproporcionais ao faturamento da franquia e as datas dos depósitos coincidem com o período em que o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz arrecadava parte dos salários dos servidores da Alerj.

PGR e JBS negam participação no caso

A PGR afirmou que Aras não recebeu nenhuma solicitação de Bolsonaro e “não participou de nenhum dos contatos que trataram de eventual proposta de repactuação do acordo de colaboração premiada da JBS com envolvimento do advogado Frederick Wassef”.

A JBS também se pronunciou, em nota, afirmando que o “escritório de advocacia mencionado não representa nem se manifesta em nome da Companhia junto à PGR”.

Veja a íntegra da nota divulgada pela Procuradoria-Geral da República:

A Procuradoria-Geral da República (PGR) instaurou notícia de fato para apurar informações veiculadas nesta quinta-feira (20) a respeito de supostos pagamentos feitos pela JBS ao advogado Frederick Wassef, entre 2015 e 2020, e seus impactos na Petição 7.003, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). No procedimento, serão solicitadas informações ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que, conforme a imprensa, identificou as transações por meio de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Eventual irregularidade poderá reforçar os indícios de omissão nos acordos de colaboração premiada dos executivos da companhia.

Os acordos de colaboração foram firmados com a PGR em 2017 e sua rescisão aguarda decisão do Supremo. O procurador-geral da República, Augusto Aras, já se manifestou em documentos enviados ao Supremo pela rescisão dos acordos – e neste momento reitera posição contrária a uma eventual renegociação com os colaboradores. A análise do tema no Ministério Público Federal (MPF) tem cabido aos membros designados pelo PGR: os subprocuradores-gerais da República José Adonis Callou de Araújo Sá, José Bonifácio Borges de Andrada e, mais recentemente, Lindôra Maria Araújo.

Augusto Aras não participou de nenhum dos contatos que trataram de eventual proposta de repactuação do acordo de colaboração premiada da JBS com envolvimento do advogado Frederick Wassef. Todas as solicitações de audiência para tratar de assuntos jurídicos que chegam ao gabinete do PGR são direcionadas para os procuradores que atuam na respectiva matéria. O PGR dedica-se às áreas constitucional e cível perante o STF.

O procurador-geral da República afirma que não recebeu solicitação de nenhuma natureza por parte do presidente da República, e desconhece supostos telefonemas do presidente para qualquer membro do MPF.

Veja a íntegra da nota da JBS:

A JBS esclarece que o escritório de advocacia mencionado não representa nem se manifesta em nome da Companhia junto à PGR.

A empresa informa que os serviços prestados pelo escritório tiveram como finalidade atuação em inquéritos na esfera policial e que esses serviços foram prestados e pagos mediante emissão de notas fiscais, sendo a última referente ao ano de 2019. Os valores e detalhes do contrato são protegidos por sigilo legal.

A Companhia mantém um processo de auditoria de fornecedores, os quais são submetidos a due diligence e à aprovação da área de Compliance, o que também se aplica ao caso em questão. Esse processo realizou, ao longo do ano passado, 9.486 análises de forma independente e sistêmica e os casos não conformes foram bloqueados.

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