Política
PF indicia primeira-dama de João Pessoa e aponta elo de campanha do prefeito com facção criminosa
Grupo Nova Okaida teria impedido entrada de adversários de Cícero Lucena em comunidades em troca de cargos na prefeitura; defesa das envolvidas diz que acusação ‘não corresponde à realidade dos fatos’
A Polícia Federal (PF) indiciou a primeira-dama de João Pessoa (PB), Lauremília Lucena, por suposta participação em uma organização criminosa montada para influenciar a eleição municipal. Ela é casada com o atual prefeito da capital paraibana, Cícero Lucena (PP-PB), que concorre à reeleição.
No documento, divulgado nesta quinta-feira 17, a PF também incluiu a vereadora Raíssa Lacerda e a ex-secretária-executiva de Saúde do município, Janine Lucena, filha do prefeito, no esquema. Janine e Lauremília chegaram a ser presas em uma operação da PF, mas foram soltas pouco depois.
Segundo a PF, as indiciadas teriam um acerto com membros da facção criminosa Nova Okaida, cedendo cargos na prefeitura. Em troca, o grupo estaria dando apoio à candidatura de Cícero Lucena, chegando a impedir a entrada de políticos de oposição em comunidades.
“A divisão de tarefas foi claramente evidenciada. A facção criminosa assume o papel de restringir o acesso de outros candidatos aos territórios controlados. A Orcrim [organização criminosa] vale-se de violência e grave ameaça”, aponta o relatório da PF.
Ainda segundo a corporação, “as vantagens são mútuas e retroalimentadas. O crime organizado presta o apoio em troca de indicação para cargo público. Os demais atores são beneficiados pelos votos e pelo controle de território, seja nas eleições proporcionais, seja nas eleições majoritárias”.
No curso das investigações, a PF apurou conversas que supostamente tratavam da nomeação de membros do grupo criminoso para cargos públicos. A PF apontou que Lauremília Lucena se responsabilizava pelos cargos.
Janine Lucena, por sua vez, esteve envolvida em uma conversa com um dos líderes do grupo criminoso, na qual havia cobrança de cargos e de valores mensais para autorizar a entrada de pessoas nas áreas dominadas pela Nova Okaida.
A defesa da mulher e da filha de Cícero Lucena disse que as acusações “não correspondem à realidade dos fatos”. “As indiciadas não possuem qualquer envolvimento com as práticas criminosas que lhes são atribuídas”, argumentou a defesa, através de nota.
Já Raíssa Lacerda, que ainda não se manifestou sobre o indiciamento, chegou a anunciar, no início da semana, o fim da sua carreira política.
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