Política
PF aponta omissão de Mauro Cid e pede anulação de delação
O documento encaminhado ao STF diz que Cid descumpriu cláusulas do acordo e foi encaminhado à análise do procurador-geral da República, Paulo Gonet


O acordo de delação premiada firmado pelo tenente-coronel Mauro Cid pode ser anulado diante das suspeitas de que o ex-auxiliar de Jair Bolsonaro omitiu informações sobre o plano para matar Lula (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Horas depois de o militar prestar explicações à Polícia Federal, a corporação encaminhou à Corte um pedido para romper o arranjo celebrado no ano passado. A informação foi inicialmente divulgada pela jornalista Júlia Dualibi, colunista do G1, e confirmada por CartaCapital.
O documento, que defende que Cid descumpriu cláusulas do acordo, foi encaminhado à análise do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Quando a colaboração foi firmada, o então PGR Augusto Aras se manifestou contrário à celebração do acordo.
A oitiva durou pouco mais de três horas. Nela, o ex-ajudante de ordens da Presidência negou ter conhecimento do complô fracassado para assassinar o trio e manter Bolsonaro no poder após a derrota nas urnas, em 2022. Cid foi intimado a prestar esclarecimentos após a PF descobrir que ele apagou dados do seu computador antes de fechar o acordo de colaboração.
Os investigadores, então, aproveitaram para questioná-lo sobre a trama golpista. Mas a versão dada por ele não convenceu, de acordo com relatos à reportagem. A desconfiança envolve um aspecto: o material apreendido com o general Mario Fernandes, que elaborou o planejamento do golpe, mostram que Cid estava em contato com os golpistas presos nesta terça-feira.
Um acordo de colaboração prevê o compromisso do delator em falar tudo o que sabe sobre o caso sob apuração. A eventual anulação não derrubaria as provas já colhidas no âmbito da apuração. Mas acabaria por impor prejuízos ao militar, uma vez que implodiria qualquer benefício previsto no acordo – a exemplo de responder ao processo em prisão domiciliar.
O advogado Cézar Bittencourt – que faz a defesa do tenente-coronel – afirmou em nota que o militar “sempre esteve à disposição da Justiça, respondendo a tudo que lhe for perguntado”, além de manifestar interesse em esclarecer eventuais dúvidas. O advogado não atendeu às ligações de CartaCapital para comentar o assunto.
O relatório da PF que embasou a operação desta terça-feira também destaca a relação de Cid com os golpistas. O documento afirma que o auxiliar de Bolsonaro teria oferecido 100 mil reais para financiar o plano de assassinato. A oferta foi feita em conversa com o major Rafael Martins, um dos cinco presos.
No diálogo, o tenente-coronel cobra o aliado por uma estimativa de gastos em conversa no dia 14 de novembro de 2022. Em seguida, afirma: “Só uma estimativa de gastos relacionados a hotel, alimentação, material”. Adiante, sugere o valor que, segundo as investigações, seria destinado ao financiamento das ações clandestinas.
A outra menção a Cid envolve sua presença na reunião em que o plano para matar Lula, Moraes e Alckmin foi discutida. O encontro ocorreu, registra o documento, na residência do general Walter Braga Netto, então ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro, dois dias antes do diálogo mencionado acima.
Foi neste encontro, do qual também participou o tenente-coronel do Exército Hélio Ferreira Lima, que teria sido dado a largada no plano de monitoramento de Moraes.
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