Política

Pesquisa de banco mostra Lula e Bolsonaro empatados; especialistas estranham o resultado

Ainda que não seja intencional, o levantamento Modalmais/Futura ‘tem, historicamente, um viés mais favorável a Bolsonaro’, explica pesquisador

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Fotos: Ricardo Stuckert e Evaristo Sá/AFP
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A pesquisa realizada pela Futura Inteligência para o Banco Modal S/A e publicada nesta quarta-feira 30 mostra um cenário eleitoral distinto do apresentado por outros levantamentos.

Nela, Jair Bolsonaro aparece numericamente na liderança das intenções de voto espontâneas – ou seja, quando os entrevistados não contam com uma lista dos potenciais candidatos. O ex-capitão marca 33,4%, ante 32,9% de Lula, o que representa um empate técnico.

Também há empate no principal cenário considerado para o primeiro turno, com o petista marcando 38,5% e o candidato de extrema-direita chegando a 35,5%. Sergio Moro, com 5,3%, e Ciro Gomes, com 5,1%, aparecem distantes do segundo turno.

O empate técnico entre Lula e Bolsonaro se mantém em outros desenhos projetados para o primeiro turno das eleições. No cenário mais provável de segundo turno, Lula soma 48,6% das intenções de voto, ante 41,6% de Bolsonaro.

Ao contrário de outras pesquisas, esta sustenta que Bolsonaro só perderia para Lula no segundo turno. O presidente aparece numericamente à frente de Moro (40,9% a 31,6%), de Ciro (43,6% a 38%) e de João Doria (45,7% a 30,5%).

Segundo o professor Glauco Peres da Silva, vice-coordenador do Grupo de Estudos Eleitorais do Núcleo de Estudos Comparados e Internacionais da USP, resultados contrastantes geram desconfiança e, neste caso, o desafio é comparar os dados de levantamentos que recorrem ao mesmo método.

Ele explica que há diferentes formas de realizar uma pesquisa eleitoral:

  • presencialmente: dirigindo-se à casa do eleitor, considerado o cenário ideal, ou usando um ponto de fluxo, ou seja, um lugar bem movimentado da cidade;
  •  por telefone: um atendente ligando para o eleitor ou um “robô” estabelecendo o contato.

“Essas formas têm chegado a resultados diferentes, e é preciso conhecer a maneira como as pessoas se portam nessas situações. No contato telefônico, pode ser mais fácil para a pessoa desistir de participar. Imagino que seja mais fácil desligar quando é um robô, por exemplo”, disse Peres da Silva a CartaCapital.

A pesquisa Modalmais/Futura realizou 499.803 tentativas de contato por telefone e registrou 29.833 ligações atendidas, uma taxa de retorno que se aproxima de 6%.

“O problema não é o percentual, exatamente. O grande problema é que, como 94% das pessoas não responderam à pesquisa, fica a questão: será que existe algum padrão entre as pessoas que topam responder que é diferente da média da população? Existe um perfil de pessoa que aceita responder e isso gera um resultado diferente daquele que obteria se conseguisse o ‘eleitor comum’? Isso a gente não sabe, nem eles sabem.”

Jairo Pimentel, pesquisador do Cepesp-FGV e doutor em Ciência Política pela USP, chama a atenção para a caracterização dos entrevistados na Modalmais/Futura. 43,4% têm apenas o ensino fundamental, 42,1% têm o ensino médio e 14,5% têm o ensino superior.

“Tem mais nível fundamental que superior. É muito estranho. Eu trabalho com entrevista telefônica há muito tempo e, geralmente, quando você deixa livres cotas de escolaridade, acaba pegando mais superior no caso da telefônica, porque as pessoas com nível de escolaridade mais baixo são mais inacessíveis por essa ferramenta. É estranho”, declarou à reportagem. “Não existem 40% de nível fundamental no Brasil, nem são 14% de nível superior, então essas cotas estão equivocadas.”

Para Pimentel, a pesquisa Modalmais/Futura, tem, historicamente, “um viés mais favorável a Bolsonaro em comparação às demais”.

“Não digo que este viés seja intencional, que o instituto favorece Bolsonaro, apenas que a forma como é feita a pesquisa acaba gerando, de maneira corriqueira, um resultado que é mais favorável ao presidente quando comparada com outras.”

Diante de resultados discrepantes, orienta o especialista, “o mais interessante é sempre verificar a média das pesquisas para aferir o resultado, e a média mostra um Bolsonaro um pouco mais baixo do que nessa”.

Leia a íntegra da pesquisa:

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