Política

Atos pelo Brasil pedem a saída de Dilma do poder

Protesto teve menos impacto que os anteriores, mas insatisfação com os rumos do governo permanece

Ato contra Dilma em Brasília teve um balão inflável de Lula em Brasília
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A insatisfação com o governo Dilma Rousseff voltou a ficar patente neste domingo 16, terceiro dia no ano de protestos nacionais direcionados à petista. Como ocorreu em 15 de março 12 de abril, a maior parte dos manifestantes vestiu verde-amarelo, camisas da seleção brasileira e entoou palavras de ordem contra Dilma, o PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a corrupção. Também houve espaço para pedidos pela volta da ditadura.

Em cidades como Brasília, a impressão era de que os atos reuniram menos pessoas que os de abril e muito menos que o primeiro dos protestos, em 15 de março. Em São Paulo, entretanto, o protesto teria levado 135 mil pessoas segundo o Datafolha, menos que o de março (210 mil pessoas) e mais que o de abril (100 mil pessoas).

A manifestação ocorreu após uma semana em que a pressão contra Dilma arrefeceu no Congresso e na qual ganhou força a tese da conciliação, simbolizada pela Agenda Brasil, lançada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

O lançamento da Agenda Brasil coincidiu com o vazamento de notícias segundo as quais Calheiros não deve ser denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo relatos publicados por jornais, os investigadores não teriam encontrado subsídios para embasar uma denúncia contra o senador alagoano, situação diversa da vivida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PDMB-RJ), um opositor do governo.

Cunha, por sua vez, foi poupado pelos manifestantes. Em São Paulo, muitos disseram ver sua possível ascensão em eventual saída de Dilma com preocupação, mas demonstraram confiança de também conseguir removê-lo do poder.

Os movimentos que convocaram as manifestações, com destaque para o Vem Pra Rua, o Revoltados On Line e o Movimento Brasil Livre, tinham como pauta comum a saída de Dilma Rousseff do poder. Sobre o que fazer depois da desejada saída da petista ou sobre a forma de interromper o governo, havia pouco acordo. Para muitos dos manifestantes, a motivação principal era o combate à corrupção, cada vez mais vista como causa para os problemas econômicos do País, como o aumento do desemprego, da inflação e da cotação do dólar.

Muitas das pessoas que estiveram nas ruas se esforçaram para enquadrar os protestos como legítimos, e não como uma tentativa de golpe. No carro de som do Vem Pra Rua, na avenida Paulista, em São Paulo, o ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) Miguel Reale Jr., que tentou buscar alternativas jurídicas para afastar Dilma, defendeu a renúncia da petista e tratou o PT como golpista. “Somos contra o golpe que essa camarilha liderada pelo Lula e pelo José Dirceu querem dar no povo. Dilma, saia, por favor, e nos livre dessa camarilha”. 

Enquanto Dilma e o PT eram os maiores alvos das manifestações, sobrou apoio ao juiz federal Sergio Moro. Responsável pelos julgamentos da Operação Lava Jato que não envolvem políticos, Moro foi alvo de agradecimentos por sua atuação e incentivo, assim como procuradores do Ministério Público Federal e a Polícia Federal.  

ato-contra-dilma.jpg A turma que defende o fim da democracia esteve presente mais uma vez em São Paulo (Foto: André Tambucci / Fotos Públicas)

Em Belo Horizonte, o senador Aécio Neves (MG) compareceu pela primeira vez aos atos. Reeleito presidente nacional do PSDB, Aécio afirmou que seu partido “é o Brasil” e ergueu uma cópia da Constituição, segundo ele “a arma de que dispomos para fazer com que a lei seja cumprida.”

Sua presença coincide com uma mudança de postura do partido, que durante a semana, de forma inédita, convocou manifestantes para os atos que pedem o afastamento de Dilma do poder. Também durante o ato, Aécio insinuou que desejar interromper o mandato da petista. “Eu tenho muita disposição de impedir que esse governo continue fazendo mal aos brasileiros”.

ato-contra-dilma 3.jpg Manifestante protesta contra o comunismo na avenida Paulista (Foto: André Tambucci / Fotos Públicas)

Outro tucano que apareceu nas manifestações foi o senador José Serra (SP). Pelo Twitter, Serra informou seus seguidores de sua chegada na Avenida Paulista, horas depois de Aécio ir a público em Belo Horizonte.

Em Brasília, compareceu ao ato Aloysio Nunes Ferreira (SP), outro senador tucano, segundo quem a presença de integrantes do partido nas manifestações não retiraria o caráter “apartidário” do protesto.

Aécio Neves Aécio Neves compareceu ao ato em Belo Horizonte: ‘o meu partido é o Brasil’, disse (Foto: Divulgação)

Em Fortaleza, foi cercado de elogios e fãs o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), conhecido por suas declarações contra os direitos gays e em defesa da ditadura militar e da tortura, que tem aparecido com 5% de intenções de voto em pesquisas presidenciais. Duas das pautas de Bolsonaro, a volta da ditadura e o combate ao comunismo, estiveram presentes nos atos pelo Brasil.

Sergio Moro e Deltan Dallagnol Sergio Moro e Deltan Dallagnol, procurador do MPF que comanda a força-tarefa da Lava Jato, receberam apoio em Curitiba

Mais uma vez foram registrados casos de hostilidade à imprensa. Uma equipe de reportagem da TV Globo foi expulsa da manifestação contra Dilma na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, inclusive por integrantes dos carros de som dos grupos Revoltados On-Line e Vem Pra Rua, segundo relatou o jornal O Dia. Alguns manifestantes teriam tentado agredir os funcionários da TV Globo, mas foram impedidos por outros, disse o jornal. Ainda segundo O Dia, outra equipe da Globo foi hostilizada por manifestantes pró-Dilma que se reuniram em frente ao Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, em São Paulo.

Também em Copacabana, um homem vestido como gari foi hostilizado ao defender o governo. Em Curitiba, duas pessoas vestidas de vermelho foram agredidas e sofreram escoriações leves. Ninguém foi preso.


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