Política

Paulo Sérgio Nogueira tentou demover Bolsonaro de adotar ‘medidas de exceção’, diz advogado

O ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército é um dos acusados do núcleo crucial da trama golpista

Paulo Sérgio Nogueira tentou demover Bolsonaro de adotar ‘medidas de exceção’, diz advogado
Paulo Sérgio Nogueira tentou demover Bolsonaro de adotar ‘medidas de exceção’, diz advogado
O advogado Andrew Farias, que representa o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira no processo por tentativa de golpe – Foto: Rosinei Coutinho/STF
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O advogado Andrew Farias, representante do general Paulo Sérgio Nogueira no processo por tentativa de golpe, disse aos ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal que seu cliente tentou “demover” o então presidente Jair Bolsonaro (PL) de “caminhar por qualquer medida de exceção”.

Farias apresentou a defesa de Nogueira aos ministros no fim da manhã desta quarta-feira 3. O militar foi o penúltimo dos acusados de integrar o chamado núcleo crucial da trama golpista a ter os argumentos apresentados no julgamento (na sequência, começou a exposição da defesa do general Walter Braga Netto).

Ao falar perante os ministros do Supremo, o advogado indicou que havia movimentos golpistas no governo de Bolsonaro e nas Forças Armadas, e que o cliente, que foi comandante do Exército e ministro da Defesa, se opôs a todos eles.

“[Nogueira] se posicionou totalmente contrário a qualquer medida de exceção. Atuou ativamente para demover o presidente da República de qualquer medida nesse sentido“, bradou o advogado. “Quão difícil foi ser ministro da Defesa no segundo semestre de 2022… Naquele período, oficiais generais se manifestavam nas redes de forma contundente. E qual era o receio do general Paulo Sérgio? Que alguma liderança militar levantasse o braço e rompesse [com o regime democrático].”

O cliente de Farias foi o único dos acusados a comparecer ao primeiro dia de julgamento, na terça-feira 2. Nesta quarta, quando seu advogado falou, ele não estava presente.

Paulo Sérgio Nogueira compareceu ao primeiro dia de julgamento no STF; no segundo, quando seu advogado falou, ele não estava – Foto: Gustavo Moreno/STF

Ao fazer sua sustentação oral, Farias insistiu na tese de que seu cliente não se envolveu na trama golpista. Em nenhum momento, portanto, foi contundente ao negar a existência de uma conspiração. Foi, inclusive, questionado sobre o tema pela ministra Cármen Lúcia, integrante da Primeira Turma.

“Vossa senhoria, cinco vezes, disse que seu cliente ‘estava atuando para demover o presidente da República’. Demover de quê? Até agora todo, mundo diz que ninguém pensou nada…”, disse a ministra, que chegou a ser interrompida pelo advogado antes mesmo de concluir a frase.

“Demover [o então presidente] de adotar qualquer medida de exceção. Atuou ativamente”, respondeu Farias, de maneira taxativa.

O advogado citou, em diferentes momentos, o brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior, ex-chefe da Aeronáutica, e o general Marco Antônio Freire Gomes, que comandou o Exército. Em depoimentos, conforme relatou o advogado, ambos corroboraram a tese de que Nogueira foi contrário a qualquer tentativa de golpe. O terceiro comandante das Forças Armadas na época, Almir Garnier, é um dos acusados que estão sob julgamento.

“A delação e o depoimento da principal testemunha de acusação, o comandante da Força Aérea, brigadeiro Baptista Junior, é contundente, acachapante, ao falar que o general Paulo Sérgio atuou para demover o presidente de caminhar por qualquer medida de exceção”, insistiu Farias.

Para o advogado, a prova de que seu cliente não participava da trama está em detalhes como a ausência dele nas listas de cargos que seriam ocupados no pós-golpe ou na série de ataques que sofreu nas redes sociais por pessoas que ansiavam por uma virada de mesa que garantisse a continuidade de Bolsonaro no poder.

Ele chegou a ler postagens ofensivas ao próprio cliente, chamado de ‘melancia’ (termo jocoso usado contra militares ‘verdes por fora’, por causa da farda, e ‘vermelhos por dentro’, por supostos alinhamentos à esquerda). “A verdade é que o general Paulo Sérgio não é um golpista”, completou o advogado.

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