Disposto a reverter a imagem de vilão ambiental e pária científico colada ao Brasil durante os anos Bolsonaro, o governo Lula tem a oportunidade de avançar em outra seara, na qual há décadas somos igualmente malvistos: a impunidade aos crimes cometidos no campo. Célebre em todo o mundo por episódios como os assassinatos do ambientalista Chico Mendes (1988) e da missionária Dorothy Stang (2005) ou por massacres contra trabalhadores rurais como os perpetrados em Corumbiara (1995) e Eldorado dos Carajás (1996), o Brasil teve desde então uma miríade de outros casos de menor repercussão, quase sempre associados à luta pela reforma agrária e à defesa do meio ambiente. A morosidade da Justiça é quase uma garantia de que os crimes vão prescrever sem punição.
Com a intenção de passar a limpo ao menos parte dessas histórias em geral mal contadas, o governo decidiu dar fôlego ao projeto Memórias dos Massacres no Campo, lançado em 2020 pela Comissão Pastoral da Terra e pela Universidade de Brasília. Até então, o maior mérito da iniciativa foi denunciar o recrudescimento da violência rural nos últimos anos, sobretudo no governo Bolsonaro. A nova fase da pesquisa, com 2 milhões de reais de orçamento e previsão de dois anos de duração, conta com a participação do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que montou uma força-tarefa para analisar 57 chacinas ocorridas de 1985 a 2023. A parceria com a pasta, explicam os coordenadores do projeto, “é para apurar a responsabilidade criminal de mandantes e executores de crimes de assassinato configurados como massacres no campo, a partir do levantamento documental dos processos e investigações e construção de acervo audiovisual”.
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