Política

Parem de atrasar o País em briguinhas de cúpula ridículas

Minha impressão é a de que o Brasil político perdeu o jeito e jamais o encontrará. Sabe mingau, feijão, pirão, que desandam de um jeito sem volta?

Erra-se ao aumentar a produtividade em poucas sacas por hectare, intoxicando terras e plantas com agroquímicos
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Na coluna anterior, nominei técnicos e funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que, apoiados por pesquisadores da Embrapa Solos e Suínos e Aves, publicaram, em março deste ano, o estudo Fertilizantes Organominerais de Resíduos do Agronegócio: Avaliação do Potencial Econômico Brasileiro (BNDES Setorial 45).

Visto assim do alto, o estudo conclui que o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores agrícolas mundiais, mas que para isso depende de importar cerca de 80% dos fertilizantes químicos consumidos.

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Em contrapartida, e justamente por isso, poderia economizar mais de 1 bilhão de dólares anuais “aproveitando a produção de resíduos dos setores sucroalcooleiro, bovino, suíno e avicultor de corte (…)” convertendo-os em adubos organominerais, ou o dobro disso, com preparados naturais, tecnologicamente modernos, por exemplo, originados de turfa (matéria-prima à base de restos vegetais acumulados por longo período de tempo em jazidas a céu aberto).

As três colunas tiveram pouca repercussão. Esperava. Joias nacionais pouco interessam aos nossos internautas. Afinal, não falei de Moro ou da mulher do Eduardo Cunha.

Isso me deixou sem jeito. O leitor e a leitora já ficaram sem jeito? Se logo depois o encontraram, ótimo. Minha impressão é a de que o Brasil político perdeu o jeito e jamais o encontrará. Sabe mingau, feijão, pirão, que desandam de um jeito sem volta? Se houver sobrado ingredientes, compensa começar um novo.

Pode ser apenas desconfiança tola minha, tal o enrustido em que agem as folhas e telas cotidianas, mas creio que o acordo de elites econômicas, perdura há cinco séculos, e esgotou a dispensa de ingredientes básicos da boa culinária: planejamento, dedicação e honestidade com os comensais.  

O Brasil passa por um grave período de esgarçamento do tecido social. De cima a baixo, nas política, economia e letargia dos segmentos subalternos, hoje espoliados em direitos básicos.

Sucessivos governos, sobretudo o atual que se mantém há um ano com golpinhos rastaqueras, destruíram os aparelhos políticos, econômicos e sociais do País. Um atraso a ser contado em décadas. Não gostamos de nos aprofundar em mazelas. Preferimos esperar o que o Jornal Nacional tem a nos dizer. É acreditar e embasbacar.

Recebi dezenas de e-mails relatando o que acontece no interior das joias citadas. Mostram covis políticos a desviarem do destino o dinheiro público. Preservo o nome das fontes. Sugiro uma consulta nos sites de seus sindicatos de trabalhadores e a lupa mostrará os pontos nevrálgicos de suas gestões.

É claro que políticas para energia de fontes renováveis, um banco nacional de desenvolvimento, e um centro de excelência em pesquisas agropecuárias são importantes em qualquer país. Ainda mais se o país é vocacionado a produzir e exportar alimentos, fibras, biocombustíveis e produtos de madeira.

Em várias colunas citei analistas, economistas, especialistas daqui ou não, argumentando ser fundamental o papel do Estado nisso. Enriquecido pela natureza, as condições edafoclimáticas e a história de um povo a isso destinado. Nem tanto por vocação e mais por vontade de seus patrões que perderam o bonde da industrialização e da tecnologia.

Vista assim do alto, a agropecuária brasileira é pujante. Recorde atrás de recorde. Não sei se por muito tempo. Embora não me pretenda um Nouriel Roubini que antecipou a crise econômica internacional de 2007/8, continuar assim resultará em crise brava.

Não se analisa os entraves internacionais crescentes. Erra-se ao aumentar a produtividade em poucas sacas por hectare, intoxicando terras e plantas com agroquímicos; erra-se em ignorar as inovações tecnológicas naturais e orgânicas capazes de preservar suas lavouras ao longo do tempo; erra-se no imediatismo e no ataque aos biomas.

Usando-se também a lupa para enxergar a agricultura familiar e voltar a criar mais mercado interno, em saudável democracia, seremos duas Chinas querendo comprar para melhor viver com o que o nosso campo produz.

Parem, pois, de atrasar o País em briguinhas de cúpulas ridículas, focadas em 2018. Não temam Lula. Ele ganha até perdendo.

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