Política

Para Requião, ‘concessão’ é eufemismo

Em discurso, senador sobe o tom contra o governo e diz que o PT reeditou um dos cânones da desmoralizada cartilha neoliberal

Para Requião, ‘concessão’ é eufemismo
Para Requião, ‘concessão’ é eufemismo
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) conversa com o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Foto: Agência Senado
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Em pronunciamento na segunda-feira 27, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) disse que o PT reeditou um dos cânones da desmoralizada cartilha neoliberal, com o lançamento recente de um programa de concessões no setor de infraestrutura.

Requião afirmou que o “glorioso e inefável PT” reintroduziu em grande estilo “um dos piores defeitos do caráter pátrio”, o emprego do eufemismo, transformando “privatização” em “concessão”. Entre os exemplos de eufemismo ele citou a transformação de “pobres” no Brasil em “menos favorecidos pela sorte”, de “empregadas domésticas” em “secretárias”, de “bicheiros” em “empresários de jogos” e de “patrões” em “colegas de trabalho”. “[É] como os nossos jornalistas tratam os Marinho, os Civita, os Mesquita, os Frias, segundo a observação demolidora de Mino Carta”, afirmou, em alusão à definição do Diretor de Redação de CartaCapital.

O senador lembrou que por seis vezes apoiou e trabalhou pelo candidato do PT à Presidência da República e que nos seus dois últimos mandatos governou o Paraná em aliança com o partido.

“Nesta Casa, sou da base do governo Dilma. Isso, no entanto, não me impede, não me inibe ou me descredencia a deplorar não apenas as desculpas piedosas ou a falta de originalidade nas explicações e as tentativas de trapacear a verdade, não apenas isso, mas sobretudo o fato em si, isto é, as privatizações. E elas são o que são: privatizações, sem rebuço, sem disfarce, cruamente, verdadeiramente privatizações. E eu sou contra”, disse.

Segundo Requião, o discurso é o “mesmo de sempre”, baseado no argumento de falta de recursos públicos para tocar obras de infraestrutura e na tese de maior eficiência da iniciativa privada.

Requião disse imaginar que o PT tivesse aprendido as lições do passado com as privatizações empreendidas pelo PSDB, em áreas como rodovias, ferrovias, energia elétrica e saneamento.

No capítulo das concessões brasileiras, disse Requião, há dois ingredientes típicos: o financiamento das privatizações e os contratos de concessão.

No financiamento, afirmou, o Estado empresta o dinheiro para que a iniciativa privada faça aquilo que o Estado não teria dinheiro para tocar. Já nos contratos, segundo Requião, os concessionários de ferrovias e rodovias assumem compromisso de extensão e duplicação das estradas, mas fazem o mínimo possível, só arrecadam e não sofrem qualquer punição.

“Não é piada, é assim mesmo que funciona. O BNDES e os fundos de pensão da Petrobras, Banco do Brasil e Caixa investiram bilhões de reais nas privatizações. Modelozinho interessante, não acham?”, ironizou.

Requião disse ainda que o “caos” da telefonia celular só recebeu atenção da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) porque os abusos foram “muito além do índice de abuso que a agência julga tolerável”.

“Houve um momento em que imaginei que o PT seria firme e intransigente no repúdio ás privatizações, especialmente as privatizações à moda tucana, sem oposição, já que toda a mídia atua no coro das privatizações, e a ele não se opõem partidos progressistas”, afirmou.

Requião disse que esperava que o PT tivesse aprendido “as lições das concessões-privatizações empreendidas pelos tucanos”. Citou como exemplo “a concessão das ferrovias a ALL et alia, hoje um caso de polícia segundo o TCU e o Ministério Público; a concessão de rodovias, com a imposição de tarifas de pedágio abusivas, transformando as concessionárias em sócios indesejados dos agricultores, dos industriais e dos caminhoneiros; a concessão, em várias partes do país, dos serviços de energia elétrica e de saneamento, com a acentuada piora desses serviços ao mesmo da elevação vertiginosa das tarifas”.

E citou o caso da empresa pública de saneamento do Paraná, a Sanepar, que foi privatizada. “Embora minoritário, o sócio privado assumiu a gestão da empresa que, com todas as letras, sem qualquer pejo ou escrúpulo, decretou que a prioridade da Sanepar passava a ser o lucro dos acionistas. E tome aumenta de tarifas. Quando assumi o governo, em 2003, congelei as tarifas de saneamento e as mantive congeladas por oito anos, sem prejuízo para a saúde financeira da empresa, o que dá uma ideia do quanto eles inflaram o preço da água e do esgoto para remunerar o sócio privado.”

Embrapa

Requião comentou a expectativa de abertura de capital da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo o senador, a privatização interessaria às “sete irmãs” que dominam a produção de sementes e defensivos agrícolas, uma referência a gigantes transnacionais de pesquisa como Monsanto, Syngenta e Cargill.

Requião advertiu que recursos genéticos e demais bancos de pesquisa da Embrapa, bem como um dos mais fantásticos acervos de pesquisas agropecuárias e florestais do planeta, poderão se tornar propriedade de acionistas privados, embora todas essas informações tenham sido acumuladas ao longo de décadas de estudos executados com dinheiro público.

“Tudo vai ser entregue de mão beijada a Monsanto et caterva. Privatizar a Embrapa ou abrir o capital da empresa é mais um desses manjados argumentos de que abusam os liberais toda vez que cobiçam o naco de uma empresa pública. Mas faço fé na diretoria e nos funcionários da Embrapa”, concluiu.

 

*Com informações da Agência Senado

Em pronunciamento na segunda-feira 27, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) disse que o PT reeditou um dos cânones da desmoralizada cartilha neoliberal, com o lançamento recente de um programa de concessões no setor de infraestrutura.

Requião afirmou que o “glorioso e inefável PT” reintroduziu em grande estilo “um dos piores defeitos do caráter pátrio”, o emprego do eufemismo, transformando “privatização” em “concessão”. Entre os exemplos de eufemismo ele citou a transformação de “pobres” no Brasil em “menos favorecidos pela sorte”, de “empregadas domésticas” em “secretárias”, de “bicheiros” em “empresários de jogos” e de “patrões” em “colegas de trabalho”. “[É] como os nossos jornalistas tratam os Marinho, os Civita, os Mesquita, os Frias, segundo a observação demolidora de Mino Carta”, afirmou, em alusão à definição do Diretor de Redação de CartaCapital.

O senador lembrou que por seis vezes apoiou e trabalhou pelo candidato do PT à Presidência da República e que nos seus dois últimos mandatos governou o Paraná em aliança com o partido.

“Nesta Casa, sou da base do governo Dilma. Isso, no entanto, não me impede, não me inibe ou me descredencia a deplorar não apenas as desculpas piedosas ou a falta de originalidade nas explicações e as tentativas de trapacear a verdade, não apenas isso, mas sobretudo o fato em si, isto é, as privatizações. E elas são o que são: privatizações, sem rebuço, sem disfarce, cruamente, verdadeiramente privatizações. E eu sou contra”, disse.

Segundo Requião, o discurso é o “mesmo de sempre”, baseado no argumento de falta de recursos públicos para tocar obras de infraestrutura e na tese de maior eficiência da iniciativa privada.

Requião disse imaginar que o PT tivesse aprendido as lições do passado com as privatizações empreendidas pelo PSDB, em áreas como rodovias, ferrovias, energia elétrica e saneamento.

No capítulo das concessões brasileiras, disse Requião, há dois ingredientes típicos: o financiamento das privatizações e os contratos de concessão.

No financiamento, afirmou, o Estado empresta o dinheiro para que a iniciativa privada faça aquilo que o Estado não teria dinheiro para tocar. Já nos contratos, segundo Requião, os concessionários de ferrovias e rodovias assumem compromisso de extensão e duplicação das estradas, mas fazem o mínimo possível, só arrecadam e não sofrem qualquer punição.

“Não é piada, é assim mesmo que funciona. O BNDES e os fundos de pensão da Petrobras, Banco do Brasil e Caixa investiram bilhões de reais nas privatizações. Modelozinho interessante, não acham?”, ironizou.

Requião disse ainda que o “caos” da telefonia celular só recebeu atenção da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) porque os abusos foram “muito além do índice de abuso que a agência julga tolerável”.

“Houve um momento em que imaginei que o PT seria firme e intransigente no repúdio ás privatizações, especialmente as privatizações à moda tucana, sem oposição, já que toda a mídia atua no coro das privatizações, e a ele não se opõem partidos progressistas”, afirmou.

Requião disse que esperava que o PT tivesse aprendido “as lições das concessões-privatizações empreendidas pelos tucanos”. Citou como exemplo “a concessão das ferrovias a ALL et alia, hoje um caso de polícia segundo o TCU e o Ministério Público; a concessão de rodovias, com a imposição de tarifas de pedágio abusivas, transformando as concessionárias em sócios indesejados dos agricultores, dos industriais e dos caminhoneiros; a concessão, em várias partes do país, dos serviços de energia elétrica e de saneamento, com a acentuada piora desses serviços ao mesmo da elevação vertiginosa das tarifas”.

E citou o caso da empresa pública de saneamento do Paraná, a Sanepar, que foi privatizada. “Embora minoritário, o sócio privado assumiu a gestão da empresa que, com todas as letras, sem qualquer pejo ou escrúpulo, decretou que a prioridade da Sanepar passava a ser o lucro dos acionistas. E tome aumenta de tarifas. Quando assumi o governo, em 2003, congelei as tarifas de saneamento e as mantive congeladas por oito anos, sem prejuízo para a saúde financeira da empresa, o que dá uma ideia do quanto eles inflaram o preço da água e do esgoto para remunerar o sócio privado.”

Embrapa

Requião comentou a expectativa de abertura de capital da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo o senador, a privatização interessaria às “sete irmãs” que dominam a produção de sementes e defensivos agrícolas, uma referência a gigantes transnacionais de pesquisa como Monsanto, Syngenta e Cargill.

Requião advertiu que recursos genéticos e demais bancos de pesquisa da Embrapa, bem como um dos mais fantásticos acervos de pesquisas agropecuárias e florestais do planeta, poderão se tornar propriedade de acionistas privados, embora todas essas informações tenham sido acumuladas ao longo de décadas de estudos executados com dinheiro público.

“Tudo vai ser entregue de mão beijada a Monsanto et caterva. Privatizar a Embrapa ou abrir o capital da empresa é mais um desses manjados argumentos de que abusam os liberais toda vez que cobiçam o naco de uma empresa pública. Mas faço fé na diretoria e nos funcionários da Embrapa”, concluiu.

 

*Com informações da Agência Senado

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