Política

Os três eixos da reforma ministerial de Lula

Trocas no primeiro escalão envolvem disputas internas, acenos à bancada evangélica e articulação para 2026

Os três eixos da reforma ministerial de Lula
Os três eixos da reforma ministerial de Lula
O vice-presidente Geraldo Alckmin, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participam do lançamento do Programa Acredita, em cerimônia no Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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A substituição de Nísia Trindade por Alexandre Padilha no Ministério da Saúde marca o início de uma reforma ministerial que busca atingir alguns objetivos estratégicos: pacificar uma disputa interna no PT, incluir um evangélico na Esplanada e dar visibilidade ao senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

A troca na Saúde está diretamente ligada à geopolítica interna petista. Lula quer que Edinho Silva, ex-ministro de Dilma Rousseff, assuma a presidência do partido na eleição marcada para 6 de julho. Mas Gleisi Hoffmann, atual presidente do PT, tem outra preferência: o deputado José Guimarães (CE), líder do governo na Câmara.

A saída de Padilha da Secretaria de Relações Institucionais, órgão responsável pela articulação política do Planalto, abriu espaço para o ajuste: Gleisi Hoffmann foi levada ao posto nesta sexta-feira 28. A saída é lida como uma compensação pelo fato da deputada não ter conseguido apoio para emplacar um sucessor na sigla. Pelo mesmo motivo, Guimarães chegou a ser cogitado no posto. Quem também foi citado em Brasília como opção foi o deputado Silvio Costa Filho, do Republicanos, atual ministro dos Portos e Aeroportos.

A ida Gleisi para o primeiro escalão era dada como certa – ela foi convidada pelo presidente há algumas semanas – faltava saber o destino.

As opções que estavam na mesa, diz um deputado que conversa com Lula, eram, além da SRI, a Secretaria-Geral da Presidência e o Ministério do Desenvolvimento Social. Ambas as pastas têm petistas de quem Lula reclama em público, no caso de Marcio Macedo, o secretário-geral, e em privado, no caso de Wellington Dias, do Desenvolvimento Social.

Macedo foi o tesoureiro da campanha lulista em 2022. E pode assumir a secretaria de finanças do PT, outro abacaxi interno.

Desde a adoção do financiamento público de campanhas, em 2018, os tesoureiros dos partidos passaram a ter enorme poder. O fundo eleitoral de 2022 foi de R$ 4,9 bilhões, dos quais R$ 499 milhões ficaram com o PT – a segunda maior fatia, atrás apenas do União Brasil. Em 2024, na eleição municipal, o partido recebeu R$ 619 milhões, novamente atrás apenas do PL de Jair Bolsonaro, que levou R$ 776 milhões.

Hoje, a tesouraria do PT é comandada por Gleide Andrade, aliada de Gleisi e do secretário de Comunicação do partido, Jilmar Tatto (SP).  Recentemente, o partido mudou regras internas e permitiu que Gleide seja reeleita em julho. Edinho Silva não quer a permanência dela, e uma dúvida se impõe: Lula a abrigaria também no governo?

Um deputado petista avalia que Lula não deveria usar a reforma ministerial para resolver um problema interno do partido. Ele chama atenção para o discurso do presidente na festa de 45 anos do PT, em 22 de fevereiro, quando deu a entender que poderia nomear Gleisi para um ministério.

“O dia de hoje, Gleisi, é um dia especial para mim e para você. Porque de vez em quando as coisas acontecem de forma extraordinária.” Na sequência, porém, Lula mudou de tom e passou a elogiar a gestão da petista no partido, sem falar sobre o futuro.

O fator evangélico

Outro objetivo da reforma é ampliar a interlocução com os evangélicos, segmento que mantém uma visão pior do governo, influenciada pela máquina bolsonarista e por parte da liderança religiosa.

Em uma reunião no dia 26 de fevereiro, um senador do PT revelou a parlamentares de diferentes partidos – incluindo do PL – que Lula pretende nomear um evangélico para o ministério. Segundo ele, a reforma pode ser ampla, afetando de 8 a 10 pastas.

A recente disputa pela liderança da bancada evangélica no Congresso ilustrou o desafio do governo nesse campo. O deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP), apoiado por Bolsonaro, venceu a eleição contra Otoni de Paula (MDB-RJ), que tinha a simpatia do Planalto.

Lula quer um nome representativo o suficiente para melhorar sua imagem entre os evangélicos, mas enfrenta dificuldades para encontrar alguém com esse perfil e disposto a assumir um ministério. Resta também definir qual pasta seria mais adequada – há quem cogite as Comunicações.

Pacheco e o tabuleiro mineiro

Na dança das cadeiras, Lula também quer abrir espaço para Rodrigo Pacheco, que deixou a presidência do Senado em fevereiro. O plano é dar a ele maior projeção com vistas à eleição para o governo de Minas em 2026, montando um palanque forte para sua própria tentativa de reeleição à Presidência.

Minas, segundo maior colégio eleitoral do país, tem 16 milhões de eleitores e foi palco de uma disputa apertada entre Lula e Bolsonaro em 2022 – o petista venceu por apenas 50 mil votos.

Pacheco pode ser indicado para o Ministério das Comunicações, atualmente ocupado por Juscelino Filho (UB-MA), que está na mira da Procuradoria-Geral da República, em razão de estripulias com verba de emendas parlamentares no governo Bolsonaro. A Polícia Federal já concluiu investigações. Se o procurador-geral Paulo Gonet apresentar denúncia, a situação do ministro se tornará insustentável.

A entrada de Pacheco no governo pode enfraquecer um aliado seu, Alexandre Silveira, senador pelo PSD mineiro e atual ministro de Minas e Energia. Uma solução em estudo no Planalto é desmembrar a pasta: Silveira ficaria com a parte de energia (petróleo, transição energética), enquanto a área de mineração poderia ganhar um novo ministério.

Para evitar críticas sobre o inchaço da máquina pública, o governo cogita rebaixar a pasta da Pesca ao status de secretaria. O atual ministro, André de Paula (PSD-PE), poderia perder o cargo nessa reorganização.

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