Política

Os trabalhadores diante da Operação Lava Jato

Os funcionários das empresas atingidas podem ser duplamente punidos ao perder o emprego ou enfrentar dificuldades em receber benefícios rescisórios

Os trabalhadores diante da Operação Lava Jato
Os trabalhadores diante da Operação Lava Jato
Trabalhadores devem se preparar para assumir, parcial ou, no limite, integralmente, o controle sobre a gestão das empresas
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O contexto político e econômico brasileiro, hoje, é extremamente complexo.  Por um lado é preciso apoiar o avanço da Operação Lava-Jato que, finalmente, começou a deslindar um dos setores acusados de terem grande protagonismo na degradação da vida política brasileira, as empreiteiras.

Por outro lado, as dificuldades financeiras que essas grandes empresas começam a sofrer provocam um efeito danoso na economia nacional. E parece que isso irá se agravar ao longo do ano. O que colabora para que o Brasil não consiga mais evitar os efeitos da crise dos países centrais capitalistas iniciada em 2008. Tudo isso em meio à extrema polarização política e disputas de todo o tipo, o que dificulta a elaboração de uma alternativa clara para a superação da crise.

Nesse cenário altamente preocupante, é preciso refletir sobre a situação dos trabalhadores das empresas atingidas direta ou indiretamente pela Operação Lava-Jato. Eles são atingidos duplamente. Como todos os cidadãos brasileiros, foram roubados pelos esquemas de corrupção descobertos – e outros mais podem aparecer tanto no plano federal como nos estados. Como trabalhadores de empresas cujos proprietários e diretores foram desonestos ou irresponsáveis, eles serão novamente punidos pois podem perder seus empregos e mesmo encontrar dificuldades de receber os próprios benefícios rescisórios.

Assim, o horizonte que se avizinha aos trabalhadores é extremamente desfavorável. Por isso é preciso iniciativa e coragem para superar a lógica econômica hegemônica e encontrar soluções que preservem os interesses dos trabalhadores e da maioria da população brasileira.

Ou seja, os trabalhadores devem se preparar para assumir, parcial ou, no limite, integralmente, o controle sobre a gestão das empresas, em especial se for ameaçado seu legítimo direito à remuneração de seu trabalho. O que irá garantir, também, que o colapso dessas empresas não interrompa processos produtivos extremamente importantes para a economia nacional.

Ao longo da história, no Brasil e no mundo, os trabalhadores já assumiram empresas que, administradas pelos capitalistas, não tinham futuro. Evidentemente o desafio, agora, seria enorme, mas isso, por si só, demonstra sua urgência. É possível fazer isso dentro do arcabouço jurídico brasileiro? Talvez não, mas a legislação deve se adaptar às necessidades e valores da sociedade.

Caberá aos Três Poderes da República e aos estudiosos do assunto prestarem assistência aos trabalhadores para que se evite essa tragédia social e econômica. Aberto o debate público sobre o tema, os caminhos para a execução desse plano tão ousado como indispensável vão aparecer. Quem sabe os fundos de pensão dos trabalhadores operando coletivamente possam ser canalizados para a iniciativa, abrindo espaço para a questão da viabilidade prática/legal?

Preservado o bem-estar dos trabalhadores e das trabalhadoras, dos brasileiros e das brasileiras, que a Justiça siga seu caminho e destrua todos os esquemas de corrupção que parasitam o Brasil que trabalha.

*Janes Jorg e Marcelo S. de Carvalho são professores da Unifesp

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