Economia
Os recados de Lula contra o tarifaço antes de um possível encontro com Trump na Ásia
O brasileiro discursou, nesta quinta-feira, ao lado do presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, e voltou a mencionar a possibilidade de não usar o dólar em negociações com outros países


O presidente Lula (PT) reafirmou, nesta quinta-feira 23, a posição brasileira contra as tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos de diferentes partes do mundo, incluindo os brasileiros. A declaração ocorre a poucos dias de um possível encontro com Donald Trump durante a sua passagem pela Ásia.
“Nós queremos comércio livre”, sintetizou o brasileiro durante sua primeira agenda na Indonésia, marcada por uma reunião bilateral com Prabowo Subianto, presidente do país, e pela assinatura de parcerias com os asiáticos.
“Mais ainda: tanto a Indonésia quanto o Brasil têm interesse em discutir a possibilidade de comercialização entre nós dois ser com as nossas moedas“, emendou Lula no discurso transmitido pelo Planalto.
O uso de outra moeda que não o dólar em transações comerciais é uma das bandeiras levantadas por Lula no BRICS. A iniciativa visa reduzir a dependência dos EUA entre os países do Sul Global e membros do bloco. Na declaração, Lula reconheceu certa dificuldade em tirar a ideia do papel. “[Essa mudança] exige que tenhamos a coragem que não tivemos no Século XX”, destacou. “Exige que a gente mude alguma forma de agirmos comercialmente para não ficarmos dependentes de ninguém”, insistiu.
A agenda contra o dólar já foi abertamente criticada por Trump, com quem Lula deve se encontrar, em breve, para negociar a queda do tarifaço contra o Brasil. A expectativa é de que uma reunião bilateral ocorra na Malásia, no domingo 26, à margem da cúpula da ASEAN. O encontro ainda não foi confirmado pelo Itamaraty.
Democracia comercial
Lula, ainda nas declarações ao lado de Subianto, seguiu com os recados contra a política comercial dos EUA, sempre sem citar diretamente o país ou nominalmente Trump. “Nós queremos multilateralismo e não unilateralismo. Nós queremos democracia comercial e não protecionismo”, disse em referência indireta ao chefe da Casa Branca.
“Uma relação comercial justa é aquela em que os dois países ganham. É aquela em que os dois países têm superávit, ou se não tiver superávit, que empate o jogo”, disse, já no fim do discurso.
O tarifaço imposto contra o Brasil e outros países foi justificado por Trump, em partes, pelo suposto desequilíbrio na balança comercial. O norte-americano teria, em um primeiro momento, elevado taxas contra aqueles países que estariam deixando os EUA em desvantagem. Ao Brasil foi reservada uma tarifa de 10%. Mais tarde, já misturando questões políticas, Trump resolveu adicionar mais 40% à conta.
Após um período sem diálogo, o presidente dos EUA resolveu destravar as negociações para tentar reverter a sanção comercial contra o Brasil. A conversa foi iniciada após um encontro de poucos segundo com Lula na Assembleia Geral da ONU, quando Trump disse ter tido uma ‘ótima química’ com o brasileiro.
Dias depois, em uma ligação, reforçaram o grau de entendimento e escalaram delegações para a negociação. Uma primeira agenda, entre o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio e o chanceler brasileiro Mauro Vieira, já foi realizada. O possível encontro entre os presidentes deve abrir um capítulo ainda mais importante na conversa.
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