Política
Os recados de Bivar a Lula em meio ao risco de debandada no União
O partido controla direta ou indiretamente três ministérios, mas não compõe formalmente a base de apoio à gestão do petista


A relação entre o governo Lula e o União Brasil não segue trâmites normais. O partido, embora controle direta ou indiretamente três ministérios, não compõe formalmente a base da gestão do petista – e condiciona seu eventual suporte a questões subjetivas.
Na segunda-feira 10, uma nova onda de incerteza se instalou. A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, pediu ao TSE autorização para se desfiliar do União. Também tentam deixar a legenda por justa causa outros cinco deputados, todos do Rio de Janeiro.
Mirando votações importantes no Congresso – como medidas provisórias, regra fiscal e reforma tributária –, o governo tende a evitar desencontros com o União, que conta com nove senadores e 59 deputados, entre parlamentares aliados e inimigos de Lula.
O presidente nacional do União Brasil, o deputado Luciano Bivar, diz que seu partido vive um “problema interno” e que o tema “não cabe ao governo do PT tomar qualquer decisão”.
A declaração se refere a uma dúvida recorrente entre aliados do governo: o que Lula fará caso Daniela Carneiro consiga no TSE se desfiliar do União? E o que o partido pedirá a Lula se isso ocorrer?
Em contato com CartaCapital, além de classificar os argumentos de “risíveis”, Bivar sustenta que uma eventual saída de Daniela Carneiro do partido “não alteraria em nada o relacionamento com o governo Lula”. As entrelinhas, porém, indicam alguns alertas.
Segundo ele, “há dentro do partido parlamentares de várias matizes” e o União “estará com o governo naquilo que for dentro das nossas linhas econômicas, sociais e ideológicas”.
Bivar também deixa clara a compreensão de que o comando do Turismo é do União Brasil, não de Daniela Carneiro. “Se [a ministra] estiver publicamente fora do partido, é natural que o PT e o governo vão entender se é melhor entregar o ministério a um deputado pessoa física ou a um partido político. Então, é uma decisão do governo.”
Na prática, o União Brasil não admite a possibilidade de perder o comando de um ministério. A sigla chefia diretamente duas pastas – o Turismo, com Carneiro, e as Comunicações, com Juscelino Filho – e tem em sua cota outra indicação, a de Waldez Góes (PDT) para o Ministério do Desenvolvimento Regional.
A ação de desfiliação por justa causa apresentada por Daniela Carneiro e correligionários está nas mãos do ministro Ricardo Lewandowski, que se aposenta nesta terça, e será distribuída a um novo magistrado.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Gleisi diz que irá à Comissão de Ética contra post de Marcos do Val sobre Lula
Por Wendal Carmo
Twitter diz ao governo Lula que perfis com fotos de assassinos não violam termos de uso
Por CartaCapital
Lula na China, 14 anos depois: o que mudou de lá para cá
Por André Lucena