Política

‘Inimigos de Lula não querem julgamento justo, mas vitória política’

Ernesto Samper, ex-presidente da Colômbia, une-se a Socrátes, de Portugal, e Castañeda, do México, para defender ex-presidente

Ernesto Samper, ex-presidente da Colombia e ex-secretario-geral da Unasul, após conversa com jornalistas, em São Paulo
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Ernesto Samper Ex-presidente da Colombia após conversas com jornalistas osbre o caso Lula

Ernesto Samper, ex-presidente da Colômbia e ex-secretário geral da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) afirmou nesta quarta-feira que os opositores de Lula fecham os olhos aos desrespeitos aos princípios universais do devido processo legal.

Os inimigos de Lula não buscam uma sentença justa. Buscam uma vitória política. Esse é um tema político, mais que judicial. Mas é preciso ganhar no âmbito da Justiça porque lamentavelmente eles estão usando uma matéria-prima muito importante [contra o ex-presidente], que é a liberdade”, afirmou. 

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O colombiano veio ao Brasil para fazer uma visita a Lula na superintendência da Polícia Federal do Paraná, programada para quinta-feira 23. Antes de ir para Curitiba, ele passou por São Paulo para conversar com jornalistas e participar de um debate sobre futuro da América Latina no Instituto Perseu Abramo.

“Não é necessário ser advogado para perceber que não há nenhum dos princípios universais do devido processo legal que não foram violados no caso do presidente Lula.” Entre as violações que a Justiça brasileira vem cometendo, segundo o ex-presidente colombiano, estão o desrespeito à presunção de inocência, do direito a intimidade, à controvérsia da prova e ao direito de uma segunda instância que não seja contaminada pela visão partidária do juiz Sergio Moro.

Outras duas figuras públicas falaram sobre como o julgamento ao que o petista vem sendo conduzido no Brasil. No jornal português Público, José Sócrates, ex-presidente do país, questionou as respostas do governo Temer ao não reconhecer a decisão do Comitê da ONU e manter o impedimento de Lula ter seus direitos políticos para se mostrar como candidato à Presidência.

No The New York Times, o ex-secretario de Relaciones Exteriores do México Jorge Castañeda escreveu, nesta terça-feira, 22, que ter Lula nas urnas desta eleições é uma questão de respeito à democracia e ao Estado de Direito.

O colombiano ressaltou que o papel dos partidos políticos na América Latina vem perdendo representatividade, abrindo espaço para o cenário atual de judicialização da política. A solução, diz, é fazer com que os partidos voltem as suas origem e dialoguem de fato com os movimentos sociais.

Saída da Unasul

Samper deixou a presidência da Unasul no início de 2017. O motivo, segundo ele, foi por não ver espaço para debater uma posição do grupo  sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

“A carta democrática de Unasul estabelece que, quando há evidências de uma ruptura democrática de um dos país que compõem a Unasul, os países integrantes podem pedir que se constitua uma comissão para, de maneira, preventiva viajar ao país que existe essa ameaça e aplicar corretivos”, explica. No entanto, não houve consenso, critério necessário para iniciar essa ação.

“Em uma conversa que tivemos com os representantes da Unasul, apresentei que no Brasil havia uma ameaça de ruptura no caso da presidenta Dilma Rousseff, a maior parte dos representantes sustentou a tese que tudo se estava fazendo no Brasil dentro do ordenamento legal brasileiro e que seria um ato de intervenção se fosse enviada essa comissão”, conta.

Ele conclui que o impeachment de Dilma e a ausência de um norte dentro da comunidade foi determinante para a perda de relevância do bloco. “No momento que se produziu o golpe no Brasil começou a crise da Unasul.”

Desde a saída de Samper da secretaria-geral da Unasul, a comunidade não conseguiu preencher o cargo.

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