Política

Os elos conhecidos da família Bolsonaro com acusados no caso Marielle

Retratos, homenagens e cargos políticos, uma sequência de casualidades que ligam os principais suspeitos do crime ao ex-capitão

Família Bolsonaro faz sinal de arma com as mãos - Foto: Reprodução/Mídias Sociais
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“Conheci essa vereadora, fiquei sabendo que ela existia, no dia em que ela foi executada, por coincidência no dia 14 de março.” Em live realizada na noite da terça-feira 29 para rebater a reportagem da TV Globo que noticiou uma possível ligação com o caso da morte da vereadora Marielle, o presidente Jair Bolsonaro tentou afastar qualquer ligação sua com a parlamentar. Ainda que ele não tenha tido um contato direto com a vereadora, algumas casualidades ligam os principais suspeitos do crime ao ex-capitão – independentemente do depoimentos explosivo do porteiro do condomínio.

 

O sargento reformado Ronie Lessa, autor dos tiros contra a vereadora segundo denúncia encaminhada ao Ministério Público, morava no mesmo condomínio de Bolsonaro, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Carlos Bolsonaro também possui um imóvel no local.

Élcio Queiróz, que conduziu o Cobalt prata usado para emboscar Marielle na noite do crime, ostentava nas redes sociais uma fotografia tirada ao lado de Bolsonaro. Outro suspeito preso no início de outubro deste ano sob a acusação de ter lançado ao mar armas usadas na execução da vereadora, o professor de artes marciais Josinaldo Lucas Freitas, o Djaca, também tinha um retrato ao lado do presidente.

Polêmica recente

Na quarta-feira 30, o possível envolvimento de Bolsonaro com a morte da vereadora ganhou vários capítulos. O porteiro do condomínio onde Bolsonaro reside – e Lessa morava, à época – chegou a afirmar que, no dia 14 de março, data em que a vereadora foi assassinada, Élcio de Queiroz, um dos suspeitos da morte de Marielle e Anderson, entrou no condomínio e disse que iria para a casa do então deputado Jair Bolsonaro. O funcionário falou ainda que quando interfonou para casa do presidente, o “Seu Jair” liberou a entrada do suspeito.

O carro acabou não indo para casa de Bolsonaro e foi para a residência de Ronnie Lessa, o outro acusado de ter assassinado Marielle e Anderson. O porteiro disse que acompanhou a movimentação do carro pelas câmeras e interfonou novamente para a casa de Bolsonaro. Segundo o funcionário, o homem identificado por ele como “Seu Jair” teria dito que sabia para onde Élcio estava indo.

No dia 14 de março, entretanto, Jair Bolsonaro estava em Brasília na Câmara dos Deputados. Seu registro foi inscrito em sessões que aconteceram no período da manhã e da tarde naquele dia. Em suas redes sociais, o então deputado também postou vídeo com admiradores na parte de fora de seu gabinete.

Em coletiva prestada durante a tarde da quarta-feira 30, integrantes do Ministério Público do Rio de Janeiro afirmaram que foi Ronnie Lessa quem autorizou a entrada de Élcio Queiroz no Condomínio Vivendas da Barra, o que contraria o depoimento e as informações dadas pelo porteiro e a notícia do Jornal Nacional.

 

Segundo a promotora Simone Sibilio, o porteiro teria mentido ao afirmar que “Seu Jair” autorizou a entrada de Élcio de Queiroz para a casa registrada com o nome do presidente.

As integrantes do Ministério Público afirmaram que apurarão o porquê de o porteiro ter prestado o depoimento falso em duas ocasiões. Também não há explicações sobre a anotação no caderno ao qual o Jornal Nacional faz referência e que constaria “casa 58”, que pertence a Bolsonaro.

Coincidências

No campo das coincidências, há mais episódios. O ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como um dos chefes da milícia de Rio das Pedras e associado ao Escritório do Crime, foi homenageado em duas ocasiões pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro, hoje senador da República. Em 2003, o parlamentar apresentou uma moção de louvor ao então capitão do Batalhão de Operações Especiais. Dois anos depois, assinou a proposta para conceder a Medalha Tiradentes, uma das mais valorizadas honrarias do estado.

Além disso, a esposa e a mãe do miliciano trabalharam no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio. Raimunda Vera Magalhães, a mãe, também é citada no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como uma das servidoras que fizeram depósitos na conta de um outro Queiroz, o Fabrício, milionário motorista da família Bolsonaro que as autoridades não conseguiam encontrar para depor.

O gabinete do vereador Carlos Bolsonaro era vizinho ao de Marielle no nono andar da Câmara Municipal. Na quarta-feira 30, o UOL divulgou uma reportagem resgatando um trecho do depoimento dado pelo filho de Bolsonaro à Delegacia de Homicídios do Rio, no ano passado, pouco mais de um mês após o crime. Carlos relatou que teve uma discussão com um assessor da vereadora e que o desentendimento teria sido apaziguado pela própria Marielle.

Segundo o vereador, um dos assessores de Marielle dava entrevista a uma emissora espanhola e o chamou de “fascista”. Carlos teria ouvido a declaração ao passar pelo corredor e afirma ter questionado o funcionário sobre o motivo da agressão verbal. Ainda segundo ele, a própria Marielle “intercedeu para acalmar os ânimos, encerrando a discussão”. Carlos não informou a data em que o bate-boca aconteceu. O vereador disse ainda que mantinha um relacionamento “respeitoso e cordial” com Marielle, apesar das divergências políticas. Afirmou ter ficado sabendo do assassinato da vereadora pela imprensa.

Em depoimento colhido dias antes do de Carlos Bolsonaro, integrantes da equipe de Marielle deram outra versão sobre o acontecido. Segundo relatos, uma pessoa ligada a Carlos Bolsonaro, que se encontrava em seu gabinete, fez uns comentários desrespeitosos para um dos assessores de Marielle, tendo se iniciado uma pequena confusão, apaziguada por Marielle e pelo próprio Carlos Bolsonaro.

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