Um laudo da Corregedoria da Polícia Federal atesta a gravação ilegal da cela onde esteve preso, no âmbito da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef. Conforme o material, ao qual CartaCapital teve acesso, o grampo clandestino funcionou entre 17 e 28 de março de 2014.
Na cela onde o equipamento estava instalado havia outros quatro presos da operação: Luccas Pace, Carlos Rocha, André Catão e Carlos Alberto Pereira da Costa.
Apos a defesa de Youssef denunciar a ação ilegal, a PF abriu um procedimento interno. A apuração conduzida nos meses seguintes pela Corregedoria-Geral de Polícia Federal, especificamente pela Coordenação de Assuntos Internos, concluiu que “restou comprovada a existência de indícios” da instalação do equipamento de interceptação ambiental.
Segundo o relatório, o conjunto de áudios demonstra que o equipamento foi utilizado “por pelo menos 12 dias (…) em cela da custódia da SR/DPF/PR, em época compatível com a primeira fase da Operação Lava Jato, quando foi preso, entre outros, o doleiro Alberto Youssef”.
Em um dos anexos do material, há o seguinte relato:
“No segundo dia (18/03/2014) conversam a respeito de itens apreendidos, entre eles pinturas, canetas, bebidas – tal fato foi noticiado na mídia naquela data; uma presa se identifica como Nelma Kodama”.
A apuração concluiu que o áudio sofreu interferências, manuais ou técnicas. Em 28 de março de 2014, por exemplo, a gravação foi interrompida “devido à descoberta do dispositivo”. Oito dias antes, o áudio registrado tinha apenas nove horas e vinte e cinco minutos de duração, supostamente devido a problemas técnicos.
No curso da investigação, há menção a “inúmeras outras passagens indicando ser o local das gravações a custódia daquela Superintendência da Polícia Federal”.
Veja uma tabela a demonstrar a duração dos áudios captados irregularmente na cela:
“No primeiro dia de gravações (17/03/2014), alguns já se identificam como Carlos Alberto Pereira da Costa, Carlos Alexandre de Souza Rocha e Alberto Youssef”, diz a investigação, a demonstrar, mais uma vez, se tratar da cela em questão.
Em julho de 2015, a PF chegou a recorrer a uma empresa especializada para recuperar dados sobre a escuta que tivessem sido apagados, sem sucesso. Na sequência, os peritos conseguiram reaver “arquivos de áudio apagados e arquivos armazenados na lixeira do Windows”.
O material foi devolvido lacrado. O volume de dados extraídos chegou a aproximadamente 70 GB e foi duplicado, por segurança.
Youssef já havia tentado acessar o laudo da investigação, mas não teve êxito no período em que Sergio Moro esteve à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba. Apenas em 2023, sete anos depois de concluída a investigação, o doleiro conseguiu analisar o material, a partir de uma nova petição apresentada ao atual magistrado responsável pela Lava Jato, Eduardo Appio.
Os próximos passos da defesa de Youssef podem ser decisivos para o caso, um dos mais simbólicos da história da Lava Jato. Há a possibilidade, nos próximos dias, de o doleiro pedir a anulação ou a revisão de sua delação premiada. Não se descarta, também, a chance de ele buscar algum tipo de reparação judicial pelo grampo clandestino.
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