Parlamentares da oposição apostam que a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a Petrobras não garante ganho eleitoral ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição.
A pressão do ex-capitão e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), resultou no pedido de demissão nesta segunda-feira 20 de José Mauro Coelho do comando da petroleira. Na sexta-feira 17, a empresa anunciou um novo aumento de preço da gasolina e do diesel.
Lira, que chamou Coelho de ‘ilegítimo’, agendou para hoje uma reunião com líderes dos partidos na Câmara para definir quais projetos serão colocados em votação. O encontro costuma ocorrer na terça-feira. Antes, no fim de semana, Bolsonaro cobrou a CPI ‘para resolver o problema da empresa’.
“Bolsonaro não assume o seu papel. É um presidente frouxo, fraco e incompetente que busca uma desculpa para a sua incompetência”, afirmou o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes. “[A CPI] é uma cortina de fumaça, pois há caminhos mais rápidos e objetivos. Ele poderia exercer o papel de presidente e de controlador majoritário da Petrobras”, acrescentou.
De acordo com o deputado, o presidente deveria “usar a caneta” e por fim na política de preços da Petrobras. ” Quando se dolariza um setor que tem tamanho impacto compromete toda a economia”.
Lopes vê ainda a intenção do governo de colocar em pauta novamente a privatização da empresa.
“O que está por trás disso é o interesse de vender a Petrobras para os amigos. Bolsonaro quer fazer um fim de feira”, declara. “Querem fazer a CPI para enfraquecer e tentar conversar a opinião popular que privatizar a Petrobras é bom”.
A saída de Coelho pode arrefecer a pressão sobre a empresa. Segundo comunicado publicado na Comissão de Valores Mobiliários, “a nomeação de um presidente interino será examinada pelo Conselho de Administração da Petrobras a partir de agora”.
Coelho é o terceiro presidente da estatal durante o governo atual. O primeiro a assumir a Petrobras foi Roberto Branco, demitido em fevereiro de 2021 pelo ex-capitão, que alegou insatisfação com o reajuste de preços dos combustíveis durante sua gestão. Seu sucessor foi o general Silva e Luna, que permaneceu menos de um ano no cargo sendo demitido em abril, após ter seguido a lógica de mercado para a definir os preços dos produtos comercializados pela empresa.
“É um presidente omisso, que não trabalha, e toda hora arruma um culpado para todos os seus fracassos administrativos”, disse o deputado federal Junior Bozzella (União Brasil-SP). “Uma CPI seria um tiro no pé. Se a oposição se antecipar a investigação pode ir contra o próprio governo”, completou.
A avaliação dos deputados, em conversa com CartaCapital, é que apesar das mudanças Bolsonaro não conseguirá reverter os seus índices de popularidade. “O governo acabou, só falta apurar a eleição no dia 2 de outubro”, afirmou Lopes.
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