Na sexta 1, que foi marcada pela posse do Legislativo que atuará até 2022, seis siglas de partidos do campo progressista se reuniram em Brasília para o lançamento do Observatório da Democracia, iniciativa das fundações Perseu Abramo (PT), Lauro Campos (PSOL), Maurício Grabois (PCdoB), Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (PDT), João Mangabeira (PSB) e Ordem Social (PROS).
O Observatório nasce com o objetivo de monitorar o governo de Jair Bolsonaro (PSL). Ele deve produzir material científico sobre as decisões e pautas arquitetadas pelo Executivo, com a premissa de defesa dos Direitos Humanos, da constituição e da soberania nacional.
A iniciativa deve produzir relatórios mensais de quatro eixos temáticos: Soberania; Infraestruturas; Produção e Inovação; e Dimensões Sociais e Ambientais. A ideia é que o material sirva de subsídio para a atuação dos parlamentares dos partidos.
Em entrevista à CartaCapital, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) disse que “a contribuição política e programática de entidades e fundações é fundamental para que a oposição consiga evitar o avanço da agenda do governo Bolsonaro”.
Furar a bolha
O presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, admite que o material corre o risco de ficar restrito à bolha intelectual da esquerda e, justamente por isso defende, em uma segunda fase, a aproximação com organizações da sociedade civil, “das corporativas às entidades de movimentos sociais e das universidades”.
A socióloga Sabrina Fernandes elogia a iniciativa, mas mostra preocupação de que ela se limite a “um bate-e-volta entre partido e fundação”. Fernandes defende a necessidade de pensar em táticas de comunicação “que não fiquem simplesmente nos formatos já maçantes da esquerda, que não atrai grande parte da população”.
A socióloga, que também é youtuber do canal Tese Onze, ressalta a necessidade de que o material produzido não deixe de focar naqueles “que estão sendo capturados por um anti-esquerdismo ou anti-petismo”.
Para isso, Fernandes considera crucial que os envolvidos atinjam logo a segunda fase explicada por Pochmann, de envolvimento da sociedade civil e dos movimentos e base.
Em entrevista à CartaCapital Pochmann ressalta que a iniciativa é diferente do Governo Paralelo, instituído pelo PT em 1990 para se opor ao governo de Fernando Collor. Na época, a iniciativa naufragou, dentre outros motivos, por importar um modelo utilizado por países parlamentaristas. Já sobre possíveis dificuldades que o Observatório da Democracia pode enfrentar por agrupar gente de tantos partidos distintos – e famosos pela desunião – ele minimiza.
As diferentes visões dos partidos não devem ser um obstáculo grande demais, já que o trabalho do observatório é baseado na busca de uma convergência gradual. “São pontos de vista táticos diferentes que estão envolvidos”, opina Pochmann.
Sâmia também é otimista:
“Acredito que algumas diferenças vão seguir existindo. Mas isso não impede a construção da unidade em torno de temas comuns.”
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