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‘Observatório da democracia’: Movimentos sociais brasileiros inauguram ‘think tank’ nos EUA

A instituição leva o nome de Washington Brazil Office e tem objetivo de influenciar tomadores de decisão nos EUA; MST, MTST e MAB estão entre os 25 movimentos associados

Foto: WBO
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Movimentos sociais anunciaram, nesta segunda-feira 31, a inauguração de um think tank nos Estados Unidos voltado para analisar e produzir conteúdo sobre o cenário político brasileiro. O escritório está localizado em Washington e inicia os trabalhos com o lançamento de boletins semanais e podcasts quinzenais em inglês com análises sobre as eleições de 2022, em um projeto chamado de “Observatório da Democracia”.

O escritório leva o nome de Washington Brazil Office e recebe financiamento de doações individuais. De acordo com a direção, acabam de chegar as duas primeiras contribuições de instituições privadas: da rede Open Society Foundations, do empresário George Soros, e do Instituto Galo da Manhã, associação voltada ao direito e ligada ao Grupo de Institutos Fundações e Empresas, o Gife. A WBO não recebe recursos públicos do governo americano.

No Conselho Consultivo, estão 25 organizações sociais, entre elas o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST; o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o MTST; o Movimento dos Atingidos por Barragens, o MAB; o Greenpeace Brasil; o Instituto Marielle Franco; e o Instituto Vladimir Herzog, entre outros.

O projeto tem cinco embaixadores: a líder indígena Sonia Guajajara, a cantora Daniela Mercury, o ex-deputado federal Jean Wyllys e os atores Gregório Duvivier e Wagner Moura. Quinze pesquisadores americanos compõem o Conselho Diretivo e dez estudiosos brasileiros vão colaborar com atividades acadêmicas, entre eles o antropólogo e cientista da computação David Nemer.

O site da WBO já está disponível. De acordo com a plataforma, a iniciativa terá programas voltados para a liberdade de expressão, as mudanças climáticas, a igualdade racial, a diversidade sexual e de gênero, o fortalecimento da proteção de lideranças sociais e o cumprimento de objetivos sustentáveis da Agenda 2030.

No evento virtual de lançamento, o historiador americano James Green, presidente da WBO, afirmou que o objetivo é conscientizar o público estadunidense sobre o panorama político no Brasil, defender avanços sociais sob uma agenda progressista e apoiar movimentos e ativistas em situação de vulnerabilidade.

O espaço foi criado há dois anos, mas só agora está sendo institucionalizado.

“Essa ideia foi construída com base em trabalhos anteriores de ONGs em Washington, como Center for Economic and Policy Research, Amazon Watch e Washington Office on Latin America, juntamente com brasileiros e outros que trabalharam com aliados no Congresso para influenciar políticos dos Estados Unidos em relação ao Brasil”, disse.

Para Rud Rafael, coordenador nacional do MTST, é “fundamental” denunciar ao exterior as violações de direitos humanos no Brasil, como o aumento dos despejos e o desmonte de políticas públicas para a habitação.

Além disso, segundo ele, o escritório será mais um canal para que sejam discutidas as ações do Estado americano no Brasil, como no caso da Operação Lava Jato, em que agentes dos Estados Unidos cooperaram com procuradores brasileiros.

“A palavra ‘soberania’ está no centro dessa proposta”, afirmou ele, em entrevista a CartaCapital.

Segundo o jurista Paulo Abrão, um dos três diretores executivos que trabalharão na sede, em Washington, articulistas do projeto chegaram a participar de briefings com assessores do Congresso americano para oferecer informações e análises sobre os impactos da Lava Jato e o processo instaurado contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Abrão diz que essa iniciativa resultou na mobilização de 23 parlamentares democratas para cobrar esclarecimentos ao presidente Joe Biden sobre a participação americana na Lava Jato.

O pesquisador considera que o novo escritório também pode “ampliar a vigilância internacional” sobre o processo eleitoral no Brasil, já que o presidente Jair Bolsonaro (PL) apresenta um histórico de ameaças à realização do pleito e ao funcionamento das instituições democráticas.

“Com o acompanhamento informacional sobre o processo eleitoral brasileiro, nós esperamos oferecer à comunidade internacional uma capacidade de leitura, inclusive sobre os seus riscos, e, se necessário, de ser ativado imediatamente um processo de solidariedade internacional, se porventura houver algum tipo de ruptura ou de atentado”, declarou Abrão a CartaCapital.

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