Economia

‘Objetivo é abrir caminho para uma queda consolidada de juros’, diz Campos Neto no Senado

O presidente do Banco Central compareceu ao Senado para prestar esclarecimentos sobre a política monetária

O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que projeta uma “queda consolidada” da taxa de juros, durante audiência pública no Senado Federal, nesta quinta-feira 10.

A declaração ocorre uma semana após o Banco Central ter anunciado a redução da taxa Selic em 0,5%, saindo de 13,75% para 13,25%. A subtração veio depois de um ano de estagnação no mesmo percentual. O índice no Brasil, que dá base às cobranças de juros, é um dos maiores do mundo.

“O nosso objetivo é poder abrir caminho para ter uma queda consolidada de juros”, disse, destacando a importância de medidas que garantam ‘estabilidade fiscal sem precisar ter aumento de receita’.

“Agente tem um nível de tributação já muito alto”, complementou o presidente do BC. “Mas eu estou de acordo que a gente precisa, agora, correr atrás de um equilíbrio fiscal, e o plano que foi desenhado, se a gente atingir as metas fiscais, a gente também vai atingir juros mais baixos e mais estáveis daqui para frente.

Campos Neto respondia a questionamentos do líder do governo no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP).

O parlamentar iniciou a interpelação com um cumprimento ao presidente do Banco Central pelo voto em favor da redução dos juros na última reunião do Comitê de Política Monetária.

Além disso, Randolfe destacou que “o governo em nenhum momento questiona ou está questionando ou questionará ou encaminhará qualquer debate neste Congresso sobre a autonomia do Banco Central”.

Segundo o senador, “a autonomia do Banco Central, da perspectiva do governo, é uma posição consolidada, e é uma decisão do Congresso Nacional”.

O parlamentar afirmou ainda que o Ministério da Fazenda não tem qualquer perspectiva de alterar o que consta no arcabouço fiscal enviado ao Parlamento, sobretudo no regime de metas.

Dito isso, o senador fez uma comparação ao tratamento que o Banco Central deu aos juros nos cenários econômicos de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O parlamentar argumentou que o Banco Central está sendo mais rigoroso com a taxa de juros num cenário fiscal mais seguro, no governo Lula, do que quando a gestão Bolsonaro estabelecia um “descontrole fiscal” com “medidas eleitoreiras” para melhorar a economia.

“Nós vimos no ano passado um conjunto de medidas, essas sim, medidas de descumprimento do rigor fiscal. No ano passado, o governo aprovou desoneração de combustíveis, ampliou auxílios, criou auxílios novos. O mundo já saindo da pandemia. Tudo isso, com medidas eleitoreiras”, acusou Randolfe.

“Na prática, ano passado, nós tivemos um atropelo fiscal, uma pedalada fiscal, com as medidas tomadas pelo governo. As medidas do Banco Central de ampliação da taxa de juros resultou ao final do ano em uma taxa de juros real de 7,95%. Nós temos hoje uma taxa de juros real, descontando a última redução, de 10%”, completou.

Campos Neto admitiu que o juro real “está relativamente alto”, mas evitou tratar diretamente sobre a discrepância nos tratamentos, limitando-se a afirmar que há diferentes formas de olhar o juro real.

“A gente tem várias formas de olhar o juro real. Quando você olha o juro real na ponta, é o que a gente chama de juro real não realizado, porque eu tenho hoje como investir na Selic, mas eu não tenho hoje como ter a forma de ganhar a inflação corrente, porque a inflação é doze meses. Então, o que a gente faz? A gente olha a taxa de juros um ano na frente e olha a inflação um ano na frente. Essa é a forma como grande parte dos países compara a taxa de juros real”, disse.

Durante os esclarecimentos, Campos Neto disse querer transmitir a mensagem de que o Banco Central planejou um “pouso suave no combate à inflação” e avaliou que a execução da tarefa foi bem-sucedida.

O presidente da instituição encontrou um ambiente mais ameno no Senado do que o cenário de pressão que vivia antes da redução da Selic. O próprio líder do governo no Congresso disse que Campos Neto “demorou, mas fez o L”, no dia em que o Copom fez o anúncio.

Indicado por Jair Bolsonaro, Campos Neto chegou ao cargo em 2019 e não pode ser demitido por Lula, uma vez que o Congresso aprovou a lei de autonomia do Banco Central no último governo.

Em fevereiro deste ano, o PSOL apresentou à Câmara dos Deputados um projeto que pede a reversão da autonomia do Banco Central, com o entendimento de que a “independência” da autarquia “retira a autoridade do governo eleito sobre um instrumento central de definição da política econômica”.

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