O xadrez de Lula

O que levou o presidente a indicar Flávio Dino ao STF e o “conservador raiz” Paulo Gonet para a PGR

Realpolitik. Gonet contou com o apoio dos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Já Dino é uma opção bem recebida pelo eleitorado progressista – Imagem: Ricardo Stuckert/PR

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Na manhã de 22 de novembro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, recebeu em sua residência oficial alguns senadores para discutir uma votação polêmica marcada para aquela tarde. Na véspera, o plenário decidira que a proposta de reduzir os poderes individuais dos juízes do Supremo Tribunal Federal poderia ser votada sem os intervalos de tempo requeridos para mudar a Constituição. Dos 81 senadores, 48 haviam apoiado o rito especial, um a menos que o necessário para alterações constitucionais. Um dos presentes na reunião com Pacheco era o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, do PT. Ele e os dois colegas de Bahia (Ângelo Coronel e Otto Alencar, ambos do PSD, o partido de Pacheco) não estavam entre os votos a favor do rito especial.

Wagner fora até Pacheco com a visão de que a votação do rito mostraria que a tentativa de desidratar togados supremos, uma bandeira do bolsonarismo, tinha força para vingar. Na reunião, da qual participou Espiridião Amim, do PP, o relator da proposta, Wagner ouviu de Pacheco que houve juiz do STF que tinha sido consultado e ajudado a chegar ao relatório final de Amim, apesar da revolta da Corte com o que o Senado preparava. Diante do quadro geral, Wagner resolveu votar a favor da proposta. Caso ela valesse em 2016, o petista poderia ter sido substituído por Lula na chefia da Casa Civil de Dilma Rousseff, algo talvez capaz de frear o impeachment. A troca havia sido proibida por Gilmar Mendes, membro do Supremo dos mais indignados com a mudança constitucional gestada no Senado. Entre os 52 votos a favor dela, estava o trio da Bahia (sem os três, seriam 49 votos, o mínimo necessário para aprová-la).

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4 comentários

CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 2 de dezembro de 2023 13h21
Lula está exercitando seus dotes de enxadrista. Sacrifica uma peça menor para levar um bispo ou mesmo a rainha. A conferir.
José Carlos Gama 2 de dezembro de 2023 23h11
A realpolitik nada mais é que acertar o quebra cabeça que insiste em sair do seu lugar de encaixe certo e confortável - não cabe sonhos - sonhos por exemplo de sair dos últimos lugares do IDH - Índice de Desenvolvimento Humano. Essa realidade que passa necessariamente por ela - a política.
Rodrigo Henrique 3 de dezembro de 2023 13h40
Para o bem ou para o mal, a realpolitik do Lula é muito bem pensada Lula é um dos políticos mais profissionais que eu já vi na vida. Eu já me darei por satisfeito se o Gonet tocar pra frente os processos contra o Bolsonaro e toda a caterva da extrema direita: tanto os da CPI do 8 de janeiro quanto os da CPI da covid não podemos esquecer jamais que o Aras engavetou. Agora é aguardar...
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 5 de dezembro de 2023 04h24
Em relação a nomeação de Flávio Dino para o STF, meus parabéns pela escolha e boa sorte ao futuro ministro da alta corte que terá um homem culto, íntegro, progressista e arrojado. Já em relação a nomeação de Paulo Gonet, falam que ele é conservador, votou contra temas relacionados a Direitos humanos e mitigou crimes da ditadura. Excelente doutrinador ao lado de Gilmar Mendes em Direito Constitucional na obra a 4 mãos Curso de Direito Constitucional. Gonet não parece ser uma esfinge, mas sua aproximação com Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes indica que ele será duro com o núcleo bolsonarista, mais precisamente com Bolsonaro nos inquéritos que provavelmente virarão denúncias, esperamos com entusiasmo. Tomara que não repita desastrosos desempenhos de procuradores que o antecederam. Deste modo como disse Júlio César, A sorte está lançada.

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