Política

“O vídeo fala por si”, diz Moro sobre reunião ministerial com Bolsonaro

Em entrevista ao Fantástico, o ex-ministro da Justiça disse que o presidente não teve ‘um impulso’ para implementar agenda anticorrupção

O ex-ministro da Justiça, Sergio Moro. Foto: Marcos Corrêa/PR
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Em entrevista concedida ao programa Fantástico, da Rede Globo, no domingo 24, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro comentou sobre o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, citado por ele como prova da interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal. “Acho que o vídeo fala por si, quando ele olha na minha direção, evidencia que estava tratando desse assunto da Policia Federal. Temos que analisar os fatos”, declarou em um trecho da reportagem.

Moro ainda disse que  presidente não teve dificuldades em trocar as pessoas a serviço do GSI e também citou as mensagens enviadas pelo presidente horas antes da reunião ministerial, via aplicativo de mensagem, confirmando a saída de Maurício Valeixo do comando da corporação. “Em reunião, anteriormente, ele não teve dificuldade em alterar o serviço do GSI, promoveu as pessoas envolvidas, e os fatos posteriores: a mensagem que ele me manda na quinta de manhã, mais um motivo pra troca, após enviar mensagem relativa ao inquérito no STF, e a demissão do diretor Valeixo”, acrescentou.

O ex-ministro, no entanto, evitou cravar se houve crime por parte do presidente Jair Bolsonaro. “Eu quando deixo o governo, fiz aquele pronunciamento e prestei depoimento, deixei muito claro que nunca foi minha intenção de prejudicar o governo de qualquer maneira o que aconteceu, no meu ver, foi uma interferência política do Presidente da República na PF, na direção geral e na superintendência do RJ. Entendi pela relevância do assunto que deveria revelar. Cabe agora à Justiça, à PGR. Da minha parte, não cabe emitir opinião a esse respeito”.

Ainda durante a entrevista, Moro foi perguntado sobre o momento em que o presidente cita um possível sistema de informações privado. “Acho que isso tem que ser indagado ao presidente da República. O que ele quis dizer com esse serviço particular. O que me causou mais preocupação foi, me parece, o desejo que os serviços de inteligência particular fossem passados a ser prestados pelos serviços oficiais”, disse.

Moro não negou que o presidente tenha externado diversas vezes preocupações em proteger seus filhos. “Quem tem que dar essa explicação, dar o sentido dessas afirmações, é o Planalto, e não o ex-ministro da Justiça. O presidente externou publicamente diversas vezes preocupações com os filhos. Tem que ver o que ele entende como serviços de inteligência que, pra ele, estavam insatisfatórios”, declarou.

Sobre o seu silêncio mantido durante toda a reunião, sobretudo em relação à Polícia Federal, Moro disse que entendeu não ser o momento apropriado para levantar as questões e quer tinha uma agenda com o presidente no dia seguinte. “Quanto às questões relativas à interferência na PF, eu tinha uma reunião com o presidente no dia seguinte. Sinceramente, acho que esses assuntos seriam mais apropriadamente discutidos em uma reunião entre o presidente e eu”.

Durante a entrevista, o ex-ministro ainda afirmou que a agenda anti-corrupção não teve “um impulso” por parte de Bolsonaro para ser implementada. “Tem que entender, no fundo, essa questão da PF, vem num contínuo. Eu ingressei no governo e dei entrevista ao Fantástico, dizendo que tinha compromisso no combate à corrupção, à criminalidade, ao crime organizado. Em parte, isso foi realizado. Me desculpem aqui os seguidores do presidente, se essa é uma verdade inconveniente, mas essa agenda anticorrupção não teve um impulso por parte do presidente da República para que implementássemos”.

Ainda disse ter se sentido desconfortável com a gestão de Bolsonaro, sobretudo em relação à Polícia Federal, e falou sobre medidas controversas tomadas pelo presidente, como a troca de ministros da saúde em meio à pandemia do coronavírus. “Quando há essa interferência sem causa na PF, isso me trouxe muito incomodo. Se viu em outras situações trocas, substituições em outros órgãos do estado, especialmente na área ambiental, que foram controversas. As próprias substituições no ministério da saúde são controversas. O presidente escolhe os ministros, mas são substituições bastante questionáveis do ponto de vista técnico. Eu também me sentia pouco confortável com essa gestão”.

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