Política

O tamanho do caos vacinal provocado pelo governo de Bolsonaro, segundo a equipe da Saúde na transição

‘O Instituto Butantan fornece 8 das vacinas que compõem calendário de imunização do nosso País. Nenhuma delas recebeu programação para o ano de 2023’, alertou o ex-ministro Arthur Chioro

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Integrantes do grupo técnico responsável pela área da saúde no governo de transição alertaram, nesta sexta-feira 25, para a queda de cobertura vacinal no País e para a total falta de planejamento na área para o ano de 2023.

“Até o ano de de 2015, o Brasil mantinha cobertura vacinal para todas as vacinas de 95%. Essa cobertura foi caindo de modo que estamos em um cenário de absoluta insegurança. Não adianta dizer estamos com potencial risco, ele é concreto”, disse o ex-ministro da Saúde Arthur Chioro, que coordena o grupo.

“Todas as vacinas obrigatórias no calendário para crianças com menos de um ano estão com cobertura inadequada”, completou ao apontar o risco do ressurgimento de doenças já erradicadas no País, caso da poliomielite. “Todas, sem exceção.”

Chioro criticou a desmobilização feita pelo atual governo em torno do Programa Nacional de Imunização, considerado referência internacional.

“De 2015 pra cá, em pouquíssimos anos, o atual governo conseguiu praticamente destruir um esforço de quatro décadas e meia na produção de um programa que se tornou modelo internacional”, disse, ao também enunciar uma situação de falta de planejamento vacinal para 2023, o que pode piorar ainda mais o quadro.

“O Instituto Butantan fornece 8 das vacinas que compõem calendário de imunização do nosso País. Nenhuma delas recebeu programação para o ano de 2023, nós estamos no final de novembro. Vocês imaginem o que é do ponto de vista de uma complexa produção industrial não ter esse planejamento, a programação”, alertou.

Chioro participou de uma entrevista coletiva nesta sexta-feira ao lado do também ex-ministro José Gomes Temporão, que integra o grupo da Saúde, para anunciar alguns diagnósticos feitos pelo grupo até o momento. Também participaram o coordenador dos grupos de transição Aloizio Mercadante e o senador Humberto Costa (PT-PE).

O grupo também citou preocupação com o cenário da Covid-19, especialmente sobre a falta de vacinação para crianças, no momento em que a doença volta a ganhar força em todas as regiões do País. O senador Humberto Costa fez uma explanação sobre o cenário e afirmou que a vacinação de crianças de seis meses a dois anos está aquém do esperado.

“Há 6 milhões de crianças de 6 meses a 2 anos no Brasil, mas apenas 1 milhão de doses foram distribuídas, e voltadas apenas para crianças com alguma comorbidade. Só vacinaram crianças que tem outras doenças. Ao mesmo tempo, o sistema Datasus não tem registros sobre esses dados. Então, nós estamos meio às cegas, 1 milhão de doses foram distribuídas e não sabemos efetivamente como foi, nem se foram aplicadas”, disse Costa. “Nós não temos conhecimento de como estão os estoques, o TCU cogitou que uma grande quantidade de vacinas e medicamentos já estão vencidas ou em vias de vencerem.”

Os integrantes da saúde também identificaram riscos de desabastecimento de medicamentos no País, uma possível situação de colapso na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) por falta de mão de obra e recursos, e mostrou preocupação com o represamento de cirurgias eletivas e procedimentos laboratoriais nos últimos anos, o que pode contribuir para a atual fila nos hospitais públicos e grande espera da população por atendimento.

“Nós tentamos encontrar informações que pudessem nos indicar o tamanho do problema, qual seria a dimensão, suas características em cada uma das diferentes regiões de saúde do País. Inacreditavelmente, não existe no Ministério da saúde nenhuma informação que possa apontar qual é o tamanho do déficit, do maior problema de saúde vivido pela população brasileira. Então, é um verdadeiro deserto de informações, é o escuro, é uma incapacidade de enxergar o problema na sua dimensão real”, disse Chioro, se referindo à situação dos hospitais.

Ainda de acordo com os especialistas da Saúde, para atender as demandas emergenciais da área seria necessário um investimento da ordem de 22,7 bilhões.

Mercadante disse que “o negacionismo trouxe sequelas” ao País e que o objetivo do grupo de transição é produzir um “diagnóstico sensível muito aprofundado dos principais problemas, dos pontos de vulnerabilidade que a área da saúde poderá enfrentar neste processo de transição, olhando o horizonte dos próximos 120 dias, a partir da posse do presidente Lula.”

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