O sonho dos escravagistas

Luiz Philippe de Orleans e Bragança, o 'príncipe' dos bolsonaristas, propõe a extinção da Justiça do Trabalho

Servidão. O deputado federal parece se contentar com a abolição meramente formal da escravidão no Brasil, assinada por sua tataravó, a princesa Isabel – Imagem: Marcel Crozet/ILO e Gilmar Felix/Ag.Câmara

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Um dos ramos do Judiciário brasileiro com maior produtividade, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Justiça do Trabalho volta a ser alvo de ataques e a sofrer ameaça de extinção. Uma Proposta de Emenda Constitucional do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança, do PL paulista, que se autointitula “príncipe” por pertencer à dinastia portuguesa que inaugurou a exploração das terras brasileiras, pede a extinção da Justiça do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho (MPT). Não por acaso a proposta vem à tona no momento da escalada de denúncias de trabalho análogo à escravidão no País. Com pouca chance de prosperar, a PEC segue a lógica bolsonarista, da qual o parlamentar comunga, e tenta deslegitimar as ações dos órgãos fiscalizadores das relações trabalhistas, sem deixar de tirar uma casquinha do Judiciá­rio, alvo recorrente da malta.

Para começar a tramitar, a matéria precisa de ao menos 171 assinaturas dos deputados, mas ainda não alcançou sequer 70. Caso ultrapasse essa fase, por se tratar de uma Emenda à Constituição, precisaria ser aprovada por três quintos dos deputados, 308 votos, e igual fração no Senado, 27 votos, em dois turnos. O jurista Jorge Luiz Souto Maior, desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região e professor de Direito do Trabalho na Faculdade de Direito da USP, analisou o texto, classificado como caricato e sem qualquer embasamento teórico. “No fundo, o propósito é tirar o foco das empresas escravistas que estão sendo identificadas. Estrategicamente, eles tentam virar o jogo com uma proposta para extinguir a Justiça do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho, todo mundo começa a falar sobre isso.”

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2 comentários

José Carlos Gama 3 de abril de 2023 23h08
Limpar esse legado bolsonarista, vai levar pelo menos uns dois mandados com forte presença democrática nas instituições para erradicar essas propostas de cunha fascista como essa.
Nair Odete de Campos 1 de abril de 2023 21h48
Infelizmente mais um deputado como muitos , talvez a maioria, q ao invés de estar no congresso intentando piorar cada vez mais a tao triste e .nefasta realidade do país, deveria se recolher à propria insignificância e voltar ao esgoto moral de onde saiu.

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