Política

O recado das ruas

Para especialistas, manifestações abriram as portas do armário da direita, mas consequências para eleições de 2014 são incertas

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Em Águas de Lindóia

Passados três meses da onda de protestos que tomou o Brasil, ainda não se sabe quem é nem o que quer boa parte dos manifestantes que foram às ruas em oposição a “tudo isto que está aí”, sem bandeiras específicas ou organização clara.

Reunidos no 37º Encontro Anual da Anpocs, os cientistas políticos Claudio Couto (FGV), Adriano Codato (UFPR), Fernando Filgueiras (UFMG) e João Feres Júnior (UERJ) manifestaram reticências, após a mesa redonda “Direita Volver – O Resurgimento do Conservadorismo Político no Brasil Contemporâneo”, em relação ao rescaldo dos protestos e ao modus operandi de parte dos grupos rebeldes. “Em uma das poucas manifestações públicas dos Black Blocs, por exemplo, identificamos uma postura individualista preocupante”, afirmou Feres Júnior. E completou: “o autoritarismo é um ponto que une a extrema esquerda e a extrema direita. É como se fosse um ponto em que elas se chocam”.

Os especialistas disseram haver dificuldade em identificar a posição de grupos como os Anonymus no Brasil. Eles demonstraram preocupação com a hostilidade contra a política em geral, um ódio, segundo Codato, manifestado tanto pela extrema esquerda como pela extrema direita. Para ele, parte dessa rejeição aos políticos se explica pelo fato de haver um predomínio de parlamentares profissionais, que vivem em um mundo próprio, distantes da realidade do eleitor e identificados como legisladores em causa própria.

O discurso antipolítica, neste sentido, é mais um resultado desta “hipertrofia” do meio político do que uma “crise de representação”, como muitos sacramentaram em meio aos protestos. Ainda de acordo com o cientista político da UFPR, as autoridades não souberam responder às demandas surgidas durante a crise. Ele cita a proposta de reforma política por meio de um plebiscito, que chegou a ser anunciada pela presidenta Dilma Rousseff, como exemplo dessa desorientação. “Você tem um protesto por menos corrupção e melhoria dos serviços públicos e a resposta é o debate sobre o voto distrital?”, ironiza.

Para Claudio Couto, da FGV, a proposta de reforma política foi vendida equivocadamente como a solução para os todos males. Mas a questão, ressalta, era mais complexa. “Restava dizer qual reforma política seria proposta. Seria o Parlamentarismo? O voto distrital?”, questiona.

Os protestos, segundo os especialistas, fizeram com que muitos perdessem a vergonha de se assumir como eleitores de direita. Para eles, é cedo ainda para avaliar como os partidos correrão atrás destes votos. Citam como exemplo o PSB, que ensaia alianças à direita enquanto testa a viabilidade da candidatura do governador pernambucano Eduardo Campos à Presidência, e a Rede Sustentabilidade de Marina Silva, que nasceria com um olho na bandeira ambientalista e outro nos votos evangélicos.

Enquanto isso, avaliam, Aécio Neves, futuro candidato tucano, deixa claro que fará um discurso neoliberal, com a promessa de racionalidade dos gastos públicos. Por sua vez, o PT tenta demonstrar, por meio de seu presidente, Rui Falcão, que apenas dois projetos estarão em disputa: a proposta de manutenção dos avanços dos últimos 12 anos contra a proposta de retrocesso. Mas, segundo os especialistas, este é o discurso do governo, que é quem mais se beneficia da polarização.

Certo mesmo é que o “novo” encampado pelas ruas nos últimos três meses parece longe de ser apresentado como opção do caminho oficial até agora traçado para 2014.

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