Política
O que explica a queda de Pablo Marçal na pesquisa AtlasIntel
Para o diretor de análise política da consultoria, a queda é reflexo de movimentos dos últimos dias, mas a rejeição não está cristalizada entre bolsonaristas


A nova rodada da pesquisa de intenção de voto da AtlasIntel para a prefeitura de São Paulo reforçou a tendência apresentada por outros institutos: o ex-coach Pablo Marçal (PRTB) perdeu tração desde a cadeirada desferida por José Luiz Datena (PSDB) em um debate em 15 de setembro.
Marçal saiu de 24% na sondagem de 11 de setembro para 20,9% na nova rodada. Guilherme Boulos (PSOL) lidera com 28,3% (eram 28%) e Ricardo Nunes (MDB) marca os mesmos 20,9% do oponente do PRTB. A margem de erro é de dois pontos.
O refluxo (ao menos momentâneo) da “onda Marçal” ocorre após semanas marcadas por provocações contra todos os demais candidatos, período em que o empresário chegou a igualar forças com Boulos e Nunes.
A virulência do discurso permitiu que Marçal dominasse parte do eleitorado bolsonarista, colocando em xeque a própria liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Para Yuri Sanches, diretor de análise política da AtlasIntel, a queda de Marçal na pesquisa desta segunda decorre de uma série de fatores. A cadeirada contribuiu para o arrefecimento, mas as provocações incessantes e o fato de o episódio ter servido para arranhar a imagem de “homem destemido” criada por Marçal parecem ter freado o ímpeto da candidatura.
“Existe uma rachadura na imagem que ele tentou construir durante a campanha eleitoral. A própria cena que ele criou na ambulância prejudica a imagem de homem destemido que ele tinha”, diz o analista.
Para Sanches, o recuo de Marçal na pesquisa indica que o candidato “esticou a corda” além do tolerável. Não foram poucas as ocasiões em que o candidato disparou apelidos aos adversários e, durante debates e entrevistas, mostrou pouco apreço às regras de conduta.
A própria campanha de Marçal parece saber disso. No debate promovido pelo SBT na última sexta-feira 20, o candidato foi a público com um discurso mais”moderado” e afirmou que naquele evento a sua campanha “começaria”. Ele chegou a pedir desculpas a Tabata Amaral (PSB) por ofensas pessoais.
Há duas dúvidas a serem sanadas nos próximos dias: primeiro, se um Marçal mais moderado ditará o tom da campanha até o fim da eleição; segundo, se o aumento da rejeição a ele já é um fenômeno consolidado.
O analista da AtlasIntel acredita que a rejeição a Marçal é distinta entre eleitores bolsonaristas e na centro-direita moderada.
“A rejeição a ele na base bolsonarista é muito volátil. Trata-se de um eleitorado que, mesmo que tenha se distanciado recentemente, ainda pode votar nele”, diz Sanches. “No caso dos eleitores de centro-direita, mais moderados, a rejeição a Marçal parece mais solidificada.”
A nova rodada da AtlasIntel mostrou que, apesar da queda de Marçal, os votos perdidos pelo influenciador não migraram necessariamente para outros postulantes. Em sintonia com o esfriamento da campanha do influenciador, o que se nota é o aumento do percentual de indecisos.
Os que pretendem votar em branco, nulo ou não sabem em quem votar somam 8%. Na pesquisa anterior, o índice estava em 4%.
“Marçal cai três pontos, mas nenhum candidato aumentou muito a sua intenção de voto. O que aumentou foi o nível de indecisão”, sintetiza Sanches. “Uma parte desse eleitorado que antes dizia que iria votar em Marçal, depois do episódio da cadeirada diz que não sabe em quem votar. Mas eles não migraram para nenhum candidato à direita, nem ao Nunes.”
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