O que disseram os manifestantes pró-Lula e pró-Lava Jato em Curitiba

Segundo pesquisadora Esther Solano, discursos revelaram 'questão de classe', por um lado, e rejeição aos políticos, de outro

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Pesquisadora das manifestações de rua no Brasil desde 2013, a cientista política Esther Solano esteve em Curitiba na terça-feira 10 para colher impressões dos participantes dos atos pró-Lula e pró-Lava Jato concentrados na capital paranaense para acompanhar o depoimento do ex-presidente ao juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato em primeira instância.

O temor pelos ânimos exaltados e pela expectativa de confronto entre os dois grupos, em parte antecipado pela imprensa, não se concretizou. Separados por cinco quilômetros e sob forte aparato de segurança, as manifestações transcorreram sem ocorrências, inclusive sem cenas de violência policial.

Ao menos 5 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar do Paraná, acamparam em Curitiba e depois participaram do ato com a presença de Lula na praça Santos Andrade, na região central da cidade. De acordo com os organizadores, cerca de 20 mil compareceram.

Segundo Esther Solano, o grupo era formado principalmente por integrantes do movimento sem terra, de outros movimentos sociais, além de figuras políticas e sindicalistas, mas também houve a adesão de pessoas mais jovens, em especial durante a realização da manifestação.

“Me surpreendeu muito o discurso de classe. Houve a questão da vitimização e perseguição de Lula, mas muito atrelado à questão de classe. Eles diziam que estavam lá para lutar por eles mesmos, que Lula foi o único presidente que fez alguma coisa por eles e identificavam Moro como um representante da elite”, analisa a professora da Unifesp, que vê uma diferença neste ponto com relação às manifestações contrárias ao impeachment de Dilma Rousseff realizadas em 2016. “Nessas manifestações, que tinham uma presença maior da classe média,o discurso era mais voltado para a defesa da democracia, de questões mais abstratas”.  

Com relação aos manifestantes contrários a Lula e a favor da Lava Jato, Solano destaca o baixo número de participantes nas ruas e o discurso antipolítico. A pouca adesão pode ser explicada, em parte, pela divulgação de um vídeo de Sérgio Moro pedindo o não-confronto e também pela decisão de grupos organizados, como o Vem pra Rua e MBL, de não se deslocarem até Curitiba. Com isso, a manifestação pró-Moro ficou restrita a cerca de 50 pessoas.

“Mas isso não quer dizer que eles não tinham apoio”, esclarece Solano, citando que frequentemente motoristas que passavam pelo grupo buzinavam e gritavam palavras de apoio. “Todo mundo que a gente conversava na cidade apoiava a Lava Jato e o Moro”.


No discurso dos verde-amarelos entrevistados pela pesquisadora, sobressaiu um forte conteúdo moralista e antipolítico, com rejeição a figuras de vários espectros políticos, não apenas da esquerda.

“Eles realmente não poupam ninguém, falam que o Michel Temer é corrupto, o José Serra e o Aécio também. A única figura que surgiu foi o [deputado Jair] Bolsonaro. Diziam que ele era polêmico, mas se posicionava, então tudo bem”.

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