Política

O novo ministro e a bancada ruralista

Antes de 6 meses, virão a demarcação de terras indígenas e quilombolas submetida ao Congresso e o afrouxamento nas leis do trabalho rural

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Na coluna anterior, “Novo ministério, mas nada de novo aparece”, passeei entre a mediocridade do então anunciado ministério interino e a competência empresarial do ministro interino da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Blairo Maggi.

Pouco se pode contestar sobre os dois fatos. O “gabinete” Temer é ridículo, como seus trejeitos de estadista. O Grupo Amaggi, em 2015, teve receita líquida de 12,7 bilhões de reais e lucro de 773 milhões de reais, superando os resultados do ano anterior em 40% e 96% (!), respectivamente.

Quando o conheci e soube de sua pretensão de entrar na política, temi que o pioneirismo e o sucesso dos empreendimentos daquela família paranaense pudessem não persistir. Aliás, naquela época a soja atravessava um período de preços baixos que, somado aos pesados investimentos no porto de Itacoatiara (AM), afetavam a liquidez do grupo.

Não se sabe se por forte impulso vocacional ou espírito de sacrifício pela agricultura, Blairo acabou entrando na política e se moldou à forma em que ela é praticada no Brasil. Todos se deram bem, e julgamentos não faço. Ainda mais sem praticar o esporte do grampo e da delação premiada.

Hoje em dia, ao vê-lo ministro, apenas duvido de sua visão no sentido de fazer progredirem todos os segmentos da agropecuária nacional, sobretudo aqueles que, segundo o defasado Censo Agropecuário IBGE 2006, representariam mais de 80% das propriedades agrícolas brasileiras com área menor de 200 hectares, a maioria classificada como agricultura familiar.

Apesar da mesma raiz, diferenças separam Blairo Maggi de sua antecessora Kátia Abreu. A ex-ministra, talvez pelo seu relacionamento pessoal com a presidente eleita Dilma Rousseff, entendera a necessidade de, com Patrus Ananias do Desenvolvimento Agrário (MDA), fazer crescer a classe média rural.

Não esperem aí qualquer comprometimento do ministro interino do MAPA e de seus apoiadores ruralistas no Congresso e nas Confederações. Preocupar-se-ão (olha aí, Michel Temer, uma mesóclise!) com medidas que aumentem suas vantagens e interesses.

Até porque, como venho insistindo, o MAPA é um órgão fundamentalmente regulatório e fiscalizador, que recebe loas ao anunciar condições e recursos do Plano Safra, depois de ajoelhar-se diante do Ministério da Fazenda. Pouco a ver, pois, com a agricultura familiar, esta sim dependente de apoios políticos, técnicos e financeiros, sobretudo agora prejudicada com a descaracterização do MDA num bololô gestor sem qualquer sentido.

Quando mencionei que as prioridades de Blairo se confundiriam com os anseios da bancada ruralista, não errei. Deixa-o claro entrevista dada pelo ministro interino ao jornal Valor, em 26 de maio.

Afora a liberação de leilões dos estoques de milho para equilibrar os preços dos grãos ajustando-os às necessidades do complexo carnes e a maximização da capacidade de armazenamento de grãos através da iniciativa privada, e não da CONAB, medidas operacionais justificadas, declarou-se afável à flexibilização da venda de terras a estrangeiros.

É certo. Antes de 6 meses, virão a demarcação de terras indígenas e quilombolas submetida ao Congresso e o afrouxamento na legislação e fiscalização do trabalho rural.

No mais, e o que me espanta, é a ingenuidade de pensar negociar com o Banco Central e o ministério da Fazenda menores taxas de juros, melhores condições e mais recursos para o Plano Safra 2016/17. Sem aumento de impostos.

Uai. A palavra de ordem não é austeridade? A redução da meta fiscal para um déficit de R$ 170,5 bilhões, em 2016, irá comprometer educação, saúde, gastos sociais, e melhorar as condições do único setor da economia que anda com as próprias pernas?

Esqueçam. A continuar, os “Berrantes Caiados” só poderão se apresentar nos circos-poeiras do país. Duvidam? Peçam que Blairo Maggi consulte Henrique Meirelles.   

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