Política

As estratégias de Haddad para o segundo turno

As táticas vão desde vídeos curtos destinados a cada estado, entrevistas para rádios locais no interior e ampliação da equipe para viabilizar alianças

Haddad deve focar entrevistas em rádios fora do eixo
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Parece que o PT e Fernando Haddad finalmente “descobriram” as redes sociais. Após o arsenal de fake news produzidos, sobretudo, pela ala bolsonarista da sociedade, o partido decidiu trabalhar a campanha eleitoral na “nova plataforma”.

O candidato prepara para os próximos dias vídeos personalizados para cada região do País, que serão disseminados pela internet. O conteúdo tratará dos principais problemas do estado a que se destina e tentará captar os eleitores mais volúveis. A desconstrução do seu opositor, Jair Bolsonaro também estará na foco – sinal já dado nas primeiras coletivas de imprensa dadas no início desta semana.

Os vídeos serão curtos e haverá uma tentativa de fazer uma fala mais clara e didática do que a habitual. Hadadd tem dificuldade em tornar suas declarações mais compreensíveis.

De ontem para hoje, o petista foi orientado, outra vez, a ser mais enérgico nas respostas ao seu opositor, Jair Bolsonaro, do PSL. É uma crítica de longa data feita pelo círculo mais próximo do político, mas até então não ouvida.

A necessidade de mudar a estratégia ficou mais evidente ontem, quando Haddad foi chamado por Bolsonaro de “canalha” após propor ao rival um “protocolo ético”. No lugar de explorar a situação, o petista se restringiu a dizer que recebeu uma resposta “do nível do candidato”.

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Aliados fizeram comparações com supostas respostas que daria Ciro Gomes, pressupondo que o pedetista teria essa energia – até em excesso – que falta ao ex-prefeito de São Paulo. Caso não quisesse seguir o tom mais agressivo de Ciro, outro exemplo dado: Márcio França (PSB), candidato ao governo de São Paulo, já havia vivido situações semelhantes e agiu sem “perder a compostura”.

No debate da TV Record, o socialista desbancou o adversário João Doria (PSDB) ao mostrar que o tucano era mentiroso e que brincava com a saúde de seu rival, relacionando isso ao desrespeito do candidato com a população.

Nesta quarta-feira Haddad mudou o tom – ao menos nas redes sociais. Não apenas deixou de lado as postagens mais protocolares, como tem respondido de forma mais energética. No Twitter, ele fez declarações assertivas a respeito de seu oponente: “Meu adversário defende torturador até hoje, mesmo sabendo que nos porões da ditadura aconteciam estupros contra as mulheres presas”.

Sobre economia, postou: “A política do Paulo Guedes, economista do Bolsonaro, é de aprofundar a agenda Temer. É o Temer piorado. Nossa proposta é aumentar o poder de compra do brasileiro, reduzindo a carga tributária de quem ganha menos e cortando os juros cobrado pelos bancos”.

Em resposta à notícia de que Bolsonaro não foi liberado pelo seus médicos a participar do debate da Band, marcado para esta quinta-feira 11, Haddad chamou o ex-militar pro embate: “Meu adversário precisa participar dos debates. Eu estou disposto a ir até uma enfermaria se for preciso para debater o Brasil”.

Dentro das casas

O PT quer que Haddad chegue nas casas dos brasileiros não apenas pelas redes sociais. A estratégia será alcançar os rincões mais distantes com entrevistas a TVs no interior do País, mas, sobretudo, a rádios locais. Para isso a equipe de campanha já trabalha para ocupar boa parte de sua agenda com essas conversas.

As viagens devem ocorrer, mas não como a maratona vivida no primeiro turno que teve como objetivo apresentar o novo candidato do PT e vinculá-lo a imagem de Lula. Ontem e hoje o candidato já tinham na sua agenda as entrevistas as rádios fora do eixo Rio-São Paulo.

Identidade visual

Outro ponto alterado foi a comunicação gráfica de sua campanha. Após ter sido orientado a não fazer viagens semanais a Curitiba para visitar Lula, a equipe de campanha criou novos logos da campanha para o segundo turno. Destaca a ausência da cor vermelha.

Um ponto que vem a ser trabalhado também diz respeito a manifestações públicas, inclusive a movimentos apartidários como o #EleNão, promovido independentemente por mulheres. O partido não tem intenção que os atos públicos sejam revestidos por bandeiras e camisas vermelhas. Preferem a cor branca para reforçar a imagem de Haddad como defensor da democracia. 

Dream team

O reforço na equipe de campanha também é uma expectativa do partido para alavancar a campanha de Haddad. Após primeiro turno, o senador Jaques Wagner entrou na cena e já começou a trabalhar para construir alianças de figuras que demonstram resistência, como Marina Silva, Fernando Henrique Cardoso e Ciro Gomes.

Ciro, aliás, faz parte da composição “ideal” dessa time de campanha de segundo turno. Uma ala da equipe de Haddad o vê como essencial e quer a aliança sem limitações. Preocupa a cúpula petista que Ciro siga a mesma posição do PDT que anunciou hoje uma “aliança crítica”. Para eles, pega muito mal esse tipo de acordo para o PT. 

O petista já disse que está disposto a buscar Ciro de qualquer forma. Na mesma sintonia do candidato, o PT quer disponibilizar ao pedetista o posto que ele quiser na campanha eleitoral, sem restrições. A posição particular de Ciro, no entanto, ainda não foi anunciada.

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