Política

O MTST e a democracia participativa

O sucesso da postura adotada pelo movimento comprova a obsolescência do sistema político atual numa sociedade que não quer apenas cumprir processos, mas ajudar a construí-los

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Buzinas, vuvuzelas e rojões. Pôde ser ouvida à distância a comemoração do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) pela aprovação da emenda do vereador José Police Neto (PSD) que possibilita que o terreno da Copa do Povo, em Itaquera, seja destinado a moradias populares.

Foi legítima a festa que o movimento realizou em frente à Câmara Municipal de São Paulo, local em que seus representantes permaneceram acampados por quase uma semana, a fim de pressionar o legislativo a solucionar esta demanda.

Digo que foi legítima porque um rápido olhar voltado à construção desse desfecho nos mostra que, no decorrer do processo, o MTST não delegou a si mesmo apenas o papel de reivindicar.

O movimento, calcado no reconhecido direito por moradia, transitou por todas as esferas envolvidas: foi à presidente Dilma; ouviu a Viver Incorporadora, empresa proprietária do terreno; e, por fim, articulou junto ao legislativo do município a solução que encerraria o impasse.

Ao costurar esse desenlace, o MTST rompeu o ciclo que a política tradicional costuma percorrer, em que os interesses da população são atendidos e explorados de forma populista. Não aceitou que sua demanda fosse vislumbrada como uma oportunidade de elevar os índices de popularidade de políticos que buscam os holofotes a cada obrigação cumprida de pensar e fazer o que é melhor para a cidade e sua população.

Ao não reconhecer nenhum partido como seu porta-voz, o movimento sentiu a necessidade de dialogar e abriu caminhos para tal. Cumpriu seu dever de interlocutor de sua própria causa em tal nível que seu coordenador, Guilerme Boulos, tornou-se colunista da Folha de S.Paulo, um dos maiores jornais da capital paulista.

O sucesso da postura adotada comprova a obsolescência crescente do sistema político atual sob o qual se assenta a democracia representativa, que sofre de um anacronismo cada vez mais explícito e que a impede de compreender a sociedade atual, que não cabe mais em leituras segmentadas.

Estamos migrando para uma sociedade de interesses difusos. Uma sociedade capaz de se organizar por meio das redes sociais e exercer sua cidadania ativa. Uma sociedade que não quer mais apenas cumprir processos, quer ajudar a construí-los.

Foi esta nova sociedade, que não se encaixa no modelo populista de governar, que acampou em frente à Câmara e comemorou a construção, por meio de um processo virtuoso de resistência, desobediência civil e não violência, de uma solução justa do ponto de vista social e correta do ponto de vista legal para sua demanda.

Espero que ao andar por este caminho o MTST tenha deixado suas pegadas e que atrás desta venham outras reivindicações, deste ou de outros movimentos.

Almejo que outros movimentos sociais se inspirem nesta postura para amplificar suas vozes. Não se fechem como fizeram os ativistas do Movimento passe Livre em junho de 2013 que, ao se recusarem a dialogar, não aproveitaram o boom de visibilidade que as manifestações deram à sua causa, e se autossegregaram novamente em seus guetos. Mantiveram o discurso reivindicatório e não se comprometeram com a construção de vias para que tais reivindicações pudessem ser atendidas.

Ambiciono que todos compreendam que manter alicerces no diálogo é única forma de construir soluções para uma sociedade complexa. Vide exemplo o MTST.

* Ricardo Young é vereador (PPS) e estará no evento Diálogos Capitais – Metrópoles Brasileiras: O Futuro Planejado.

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